As Bodas de Caná da Galileia | Estudo Bíblico

A passagem bíblica do Novo Testamento, que trata sobre as Bodas de Caná da Galileia está registrada no Evangelho de João, capítulo 2, nos versos 1-11. Nesse evento, ocorre o primeiro milagre de Jesus, do Seu ministério público, quando transforma a água em vinho.

Esse acontecimento da história de Jesus é muito bonito, pois nos fala de transformação. A água transformada em vinho traz uma mensagem de que o nosso Mestre é capaz de modificar totalmente a vida de uma pessoa.

E Ele transforma em “vinho bom”, isto é, a transformação que Jesus opera é para melhor, é para o bem, é de uma vida “velha”, para uma nova vida. Quem conhece Jesus, com certeza já experimentou essa transformação profunda, que acontece nas bases do caráter do homem.

Não obstante reconhecermos essa linda simbologia das bodas de Caná, se investigarmos esse texto com mais atenção, vamos perceber que o Apóstolo João está trazendo uma história que é profundamente alegórica.

Jesus, segundo o próprio João, praticou muitos milagres que não foram escritos:

Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem. Amém.
João 21:25

Isso nos indica que os Apóstolos selecionaram passagens que tinham um maior potencial de nos trazer ensinamentos sobre a missão de Jesus, e sobre a pregação das boas novas do Evangelho.

Sendo assim, vou procurar expor as alegorias que estão presentes na passagem das bodas de Caná da Galileia, e trazer as explicações das prováveis mensagens que o quarto Evangelho reservou para nós.

As Bodas de Caná da Galileia

E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galiléia; e estava ali a mãe de Jesus.
João 2:1

As bodas de Caná da Galileia tratam do desenvolvimento dos fatos ocorridos em um casamento, segundo a cultura e os costumes Judaicos.

Um desses costumes era de se realizar os casamentos no terceiro dia da semana, que vem a ser a terça-feira do nosso calendário. Esse costume deriva dos textos do livro do Gênesis 1:10 e 1:12, que descreve o terceiro dia da criação, onde Deus “viu que era bom” por duas vezes no mesmo dia.

Em outras palavras, o casamento acontecendo no terceiro dia da semana traz à memória a ideia ancestral Israelita da benção de Deus sobre o evento.

e viu Deus que era bom
… e viu Deus que era bom.
E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.
Gênesis 1:10-13

Caná era uma cidade que ficava no norte de Israel, na região da província da Galileia. O assunto principal naquele casamento foi a falta do vinho para servir aos convidados dos noivos.

O nome Galileia vem do Hebraico גָּלִיל “Galil”, que significa “círculo”. Trata-se de uma região com várias cidades que ficavam em torno do lago semicircular, chamado de Mar da Galileia.

Quem nascia na Galileia era chamado de Galileu, em contraste com o nome de quem nascia na província da Judeia (no sul de Israel), que era por isso chamado de Judeu. Jesus era Judeu, pois também nasceu na Judeia.

Voltando ao tema do nosso estudo bíblico, as alegorias que estão presentes na história desse casamento na cidade de Caná, tem origem em sete fatores citados por João. Entre eles podemos destacar:

  1. O nome da cidade em HebraicoCaná – que vem do termo קָנָה “qana”, que é o verbo “comprar”, “adquirir”;
  2. Era costume da época que o noivopagasse” ao pai da noiva para casar com a sua amada;
  3. A presença da mãe de Jesus, Maria de forma antecipada no casamento das bodas de Caná;
  4. A falta do vinho ameaçava paralisar a cerimônia do casamento;
  5. O vinho simbolicamente representa o sangue, conforme acontece na Santa Ceia;
  6. O casamento é uma alegoria que representa o casamento entre Jesus e a Sua noiva, a Igreja; e
  7. A glória de Jesus foi manifestada (João 2:11), onde a palavra usado no original Hebraico é “Kavod“, a mesma para descrever a glória de Deus, mostrando que Jesus é Deus.

O Nome da Cidade de Caná

Como vimos mais acima, no original Hebraico, o nome da cidade de Caná é dado pelo termo קָנָה “qanah”, que é derivado do verbo que significa “comprar”, ou “adquirir“.

O interessante dessa história é que de forma muito inteligente, o Apóstolo João desenvolve a sua alegoria ao notar que Jesus estava a caminho de um casamento, e que o costume, na cultura daquela época era de que o noivo “adquirisse” a sua noiva, “pagando” por ela um preço.

Sobre o preço que Jesus pagou para adquirir a Sua Igreja, os Apóstolos Paulo e Pedro escreveram:

Porque fostes comprados por bom preço…
1 Coríntios 6:20

Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados…
Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado
1 Pedro 1:18,19

Maria e o Espírito Santo

Um outro fator simbólico, nesta passagem, é que quando Jesus e seus discípulos foram para as bodas de Caná da Galileia, o texto relata que Maria também estava lá.

…fizeram-se umas bodas em Caná da Galiléia; e estava ali a mãe de Jesus.
João 2:1

A alegoria envolvida nessa narrativa vem do fato que os termos “Espírito Santo” vem das palavras Hebraicas רוּחַ הַקֹּדֶשׁ “Ruach haKodesh” (lê-se rúar racodesh). E a palavra Ruach, “Espíritoé uma palavra feminina em Hebraico.

Maria (Miriã no original Hebraico), é a representação do Espírito de Deus, o Espírito Santo, nessa passagem das bodas de Caná.

Veja, não estou dizendo que Maria é o Espírito Santo, nem estou querendo justificar qualquer tipo de “mariolatria”. Não é isso! Ninguém deve adorar Maria, pois ela é uma mulher apenas.

O que estou tentando explicar é que há uma alegoria nessa história, que o Apóstolo João está transmitindo por meio das simbologias que cada personagem assume nessa narrativa.

Maria assume a simbologia da representação do Espírito Santo, porque em Hebraico essa palavra é do gênero feminino (diferente do Português, é claro).

Essa ligação entre o aspecto feminino da palavra “Ruach haKodesh“, Espírito Santo, com a presença de Maria no casamento de Caná, é uma expressão do amor de Deus que muitas vezes se manifesta como o amor de uma mãe, nas escrituras.

Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti.
Isaías 49:15

Deus compara o Seu amor ao amor de uma mulher, ao amor de uma mãe por seus filhos! Deus se revela, de uma forma geral nas Escrituras como pai, mãe e filho. Isso é um mistério que poucos irão entender.

Voltando ao texto das bodas de Caná, Maria estava presente no casamento, isto é, o Espírito Santo estava presente no casamento, para que? Para preparar a noiva, para conduzir a festa. A noiva é a Igreja e o noivo é o próprio Jesus Cristo.

O Mestre nos ensinou a mesma alegoria, na parábola das dez virgens.

A Falta do Vinho nas Bodas de Caná

nas bodas de Caná o vinho

O Vinho Representa o Sangue de Jesus, nas Bodas de Caná da Galileia.


E veja que Maria pede pelos noivos, na falta do vinho. Seria vergonhoso para os anfitriões da festa de casamento, não haver mais vinho, pois era parte da cultura e do costume de Israel.

E, faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho.
João 2:3

O casamento se iniciou, as partes disseram o “sim”, eles querem se casar, mas a falta do vinho ameaçava paralisar o casamento. O vinho simboliza o sangue de Jesus.

Por isso Maria vai ao Mestre, o “dono” da festa, e Ele providencia um vinho novo, um “vinho bom”, isto quer dizer, Jesus oferece o Seu próprio sangue para que a festa do casamento se concretize nos domínios espirituais.

Há um casamento espiritual, na cidade da “aquisição”, da “compra” com o sangue do Cordeiro de Deus. A festa vai continuar eternamente pois esse é o vinho que não acaba, é o vinho eterno!

A Água nas Talhas das Casas

E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes.
João 2:6

A água é simbolo da lavagem dos pecados. Jesus, com Seu grande poder, poderia ter feito o vinho surgir do nada, nas jarras e nos vasos daquela casa.

Mas Ele escolheu usar a água como elemento de transformação para ilustrar que para compreender as coisas de Deus, é necessário nascer da água e do espírito.

É uma alegoria para o batismo nas águas, um cerimonial que representa a morte para o mundo, e um renascimento para Deus.

A água para lavagem e o sangue (o vinho) é para a purificação dos pecados.

Este é aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas por água e por sangue…
1 João 5:6

A Glória de Jesus Foi Manifestada

O Apóstolo João, no versículo 2:11, faz uma afirmação “reveladora” da identidade de Jesus:

Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.
João 2:11

Ocorre que a palavra ” e manifestou”, no original é וְגִלָּה  “vegilah”, do verbo לְגַלוֹת “legalôt”, que significa “revelar”.

A palavra “a sua glória” é o termo כְּבוֹדוֹ “kevodô”, que é a mesma palavra usada para descrever a glória de Deus. João está dizendo que Jesus revelou a Sua glória, que é a mesma glória de Deus.

Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei
Isaías 42:8

E nós sabemos que Deus não divide a Sua glória com ninguém, pois a glória pertence somente a Ele. Jesus revelou a Sua glória porque Jesus é o Eterno!

E essa é a maior revelação da passagem das bodas de Caná, que Jesus é o Eterno, que tomou a forma de servo, a forma de homem e veio comprar a Sua noiva.

O preço foi muito caro, foi preço de sangue. A redenção do pecador,  foi comprada com o Seu próprio sangue. E a festa continua com esse “bom vinho”.

Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.
1 Coríntios 11:25

Sobre o autor | Website

Cursou hebraico bíblico, geografia bíblica, Novo Testamento, e estudos do Apocalipse; é especialista em estudos da Bíblia, certificado pelo Israel Institute of Biblical Studies. Autor do livro Gênesis, o Livro dos Patriarcas.

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18 Comentários

  1. Valquiria disse:

    Muito bom esse estudo, aprendi bastante. Que Deus continue lhe usando☺

  2. Lenice Diniz Cidreira disse:

    Amigo
    Só discordo sobre Maria ser uma mulher comum. Maria é muito especial! Mãe de Jesus! Recebeu o amor em seu ventre!
    Filha especial de Deus, com missão única. Maravilhosa em amor e misericórdia.

  3. Luana Santiago disse:

    Muito bom!Bem detalhado, especifico e direto! Porém o vinho além de significar o Sangue de Jesus ele significa também Alegria!

  4. Ricardo disse:

    Visto que o Casamento é alegórico, a interseção de Maria ( ao pedir a Jesus água em vinho ), naturalmente o é.

  5. Esther disse:

    Oi bom dia pode mandar para o meu email um estudo biblico da pesca maravilhosa estudo gospel gostei muito, não consegui salvar, desde já agradeço

  6. Maria josilma disse:

    Muito bom mesmo!!! Bênção, obrigada!! Deus abençoe grandemente, e te renove e venha suprir as necessidades para que vc prossiga!!!

  7. Eder nascimento disse:

    Muito interessante,entender á história dessa forma, Deus continue te usando dessa forma, que o espírito santo te guie sempre,

  8. Larissa disse:

    Maria não é uma mulher apenas é a mãe de Jesus a quem devemos respeito e reconhecimento do seu valor. Ja pensou eu chegar pra sua mãe e dizer q ela é uma simples mulher sem importância?

  9. Gil disse:

    Maria e uma mulher comum como outras mulheres que vai receber a salvação de Cristo pois no céu não existe nem maior nem menor

  10. Viviane souza disse:

    E quando cristo disse: ainda nao é minha hora, para sua mãe, quiz disser que nao era hora ainda de dar seu sangue por.nos, e maria compreendeu, essa resposta era espiritual.

  11. Nascimento disse:

    Maria, era uma serva de Deus, digna de todo respeito, mas nunca poderia ser figura do Espírito Santo nestas bodas. Jesus disse: mulher que tenho eu contigo? Ele não falaria assim com o Espírito Santo.
    A preocupação de Maria era com o vinho comum, que estava sendo servido e acabou. Preocupação de Israel. Esse primeiro, é tipo do vinho misturado, não era o bom vinho como todos falaram após provar o vinho que Jesus ofereceu. O vinho bom é tipo do Espírito Santo, fala do pentecostes derramado sobre os apóstolos e igreja primitiva que se encontrava em Jerusalém.

    • Israel Silva disse:

      Acho que você leu mas não entendeu o estudo.

      Eu não disse que Maria é o Espírito Santo.

      Eu falei que nessa passagem, da transformação da água em vinho, ela simboliza a presença do Espírito Santo.

      São coisas totalmente diferentes.

      Portanto, quando Jesus fala com Maria, ele não estava falando com o Espírito Santo.

      Eu respeito a sua opinião, mas reitero que é a sua opinião.

      O estudo foi feito com base nas tipologias mais usadas no campo teológico.

      O milagre não aconteceu em Jerusalém.
      Foi na Galiléia, no norte de Israel, bem distante da Judéia.

      Infelizmente a simbologia que vc usou não cabe nessa passagem.

      O vinho é sim símbolo do sangue de Jesus, um tipo amplamente demonstrado no Novo Testamento.

      Vc tentou distorcer os significados, não sei por qual propósito.

  12. Sinei de jesus disse:

    Muito bom o estudo gostei vou aderir e levar esse conhecimento a minha igreja

  13. Ana benny disse:

    Muito bom o estudo

  14. carlos pontes disse:

    Muito bom, exatamente aquilo que eu penava. Deus é Fiel !!!!!