Era Isabel prima de Maria? E João Batista primo de Jesus?

Era Isabel prima de Maria? E João Batista primo de Jesus? No Evangelho de Lucas 1:36, encontramos a história da anunciação do anjo Gabriel, sobre o nascimento de Jesus, quando Maria ainda estava na cidade de Nazaré, na Galileia.

E na nossa versão para o Português, de João Ferreira de Almeida (e outros), o texto das palavras do anjo, diz que Isabel e Maria seriam “primas”, da mesma família, portanto, fazendo João Batista primo de Jesus.

E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril;
Lucas 1:36

Mas será que eles eram primos mesmo? Por que razão então, moravam tão distantes?

José e Maria moravam na Galileia, que fica no mínimo a 150 km de distância da Judeia. Provavelmente eles só se encontravam quatro vezes por ano, durante as festas bíblicas, quando o povo Judeu de todas as províncias, tinha que subir a Jerusalém.

Isabel prima de Maria

No verso que lemos anteriormente, no Evangelho de Lucas 1:36, no original menciona que Isabel era “próxima” de Maria. Tanto os manuscritos Gregos como os em Hebraico trazem um termo que pode ser traduzido como “tua próxima/parenta“, mas não “prima”.

A palavra em Hebraico é קְרוֹבָתֵךְ “qerovater”. A expressão não explica muito, porém traz a ideia de proximidade, uma ligação por forte amizade, pois vem da raiz קֵרוּב “qeruv”, que significa “proximidade”.

Isabel prima de Maria

Era Isabel Prima de Maria e João Batista primo de Jesus?

“Prima”, em Hebraico, corresponde as palavras בַּת דוֹדbat dod“, que significam literalmente “filha do tio”. Porém não são estes termos que estão registrados em Lucas.

Mais afrente, na história de João Batista, Maria foi visitar Isabel, e ficou com ela quase três meses, voltando depois desse tempo para a sua casa em Nazaré. Logo após, o texto narra o nascimento de João Batista. E afirma que os vizinhos e a família de Isabel se alegraram com ela.

E os seus vizinhos e parentes ouviram que tinha Deus usado para com ela de grande misericórdia, e alegraram-se com ela.
Lucas 1:58

Neste verso de Lucas 1:58, o termo usado, em Hebraico, para a palavra “parentes“, é מִשְׁפַּחְתָּהּ “mishpachtah” (lê-se mishpartah), que significa “sua família“. Maria já tinha voltado para Nazaré, e a família de Isabel morava próxima a ela.

O texto nunca atribui, ou chama Maria de מִשְׁפַּחְתָּהּ “mishpachtah”, “família de Isabel”. Lucas poderia ter facilmente dito que Maria era da família de Isabel, ou que Isabel era prima de Maria. Mas ele escolheu uma palavra que as coloca como “próximas”, “parentas”, ou talvez “amigas”.

Isabel era bem mais velha que Maria, pois como disse o anjo, ela “concebeu um filho na sua velhice”. Talvez por isso alguns intérpretes acham (conjectura) que ela era sua tia.

João Batista primo de Jesus

Como podemos dizer que João Batista era primo de Jesus? Como pudemos ver, se Isabel e Maria não eram primas, é conjectura também afirmar que Jesus e João eram primos.

Eles tinham mães com um certo grau de proximidade, porém, no episódio do batismo de Jesus, o texto nos indica que eles nem mesmo se conheciam, anteriormente. Não há nos versos dos Evangelhos de Mateus e Lucas, nada que coloque como certo a frase “João primo de Jesus”.

Não podemos afirmar isso. O texto tem que ser o que ele é. Não podemos nem acrescentar, nem retirar. Claro que há espaço para a interpretação, para suposições. Mas não podemos traduzir de forma oficial “Isabel prima de Maria“, ou “João primo de Jesus“.

E o Hebraico se mostra uma valiosa ferramenta, quando queremos chegar a melhores traduções e interpretações, tanto do Antigo, quanto do Novo testamento.

Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.
Deuteronômio 4:2

Bibliografia: Aramaic Peshitta Text with Hebrew Translation by The Aramaic Scriptures Research Society in Israel

Sobre o autor | Website

Cursou hebraico bíblico, geografia bíblica, Novo Testamento, e estudos do Apocalipse; é especialista em estudos da Bíblia, certificado pelo Israel Institute of Biblical Studies. Autor do livro Gênesis, o Livro dos Patriarcas.

Para enviar seu comentário, preencha os campos abaixo:

Deixe um comentário

*

10 Comentários

  1. Bruno Gomes disse:

    Você desconsiderou o texto grego. Lucas foi escrito em grego para um grego (Teófilo, Luc 1.3). A palavra grega em Luc 1.36 para “parente” ou “prima” é syggenis” que vem de “sin”, com, junto, e “genos”, parentesco (kin, em ingles). Palavra usada em outros contexto como “parente”. De acordo com o Dicionário Strong de Grego e Hebraico trás: G4773 N-NSF (substantivo – nominativo singular feminino) de G4862 (sin) e G1085 (genos) 1. da mesma familia semelhante a parente de sangue; 2. num sentido mais amplo da mesma nação. cognato: G4772, G4773.

    • Israel Silva disse:

      Lucas não foi escrito em Grego, e Teófilo não era Grego. Teófilo era um Sacerdote Judeu, conforme observou Theodore Hase (1682-1731), e foi também confirmado pelo apologista e filósofo William Paley (1743-1805) na sua obra Horae Paulinae.

      Além disso, o historiador Judeu Flávio Josefo, no livro 19 (XIX), capítulo 6, de Antiguidades afirma:

      “E quando Agripa terminou completamente todos os deveres do culto divino, ele removeu Teófilo, filho de Ananus, do sumo sacerdócio, e concedeu essa honra a Simão, filho de Boetus, cujo nome também era Cantheras, cuja filha, o rei Herodes casou.”

      Ou seja, Josefo confirma que Teófilo era Sumo Sacerdote, e poderia ajudar a diminuir a perseguição que se fazia aos primeiros Cristãos que eram Judeus em sua maioria.

      Teófilo teria sido um cohen (sacerdote) e um saduceu. Isso o tornaria filho de Anás e cunhado de Caifás, criado no templo judaico. O Evangelho de Lucas foi direcionado aos leitores saduceus. Isso pode explicar alguns recursos de Lucas. Ele começa a história com um relato de Zacarias, o sacerdote justo que teve a visão de um anjo no templo (1: 5-25).

      Lucas rapidamente passa a considerar a purificação de Maria (niddah), os rituais de redenção do primogênito no templo, de Jesus (pidyon ha-ben) (2: 21-39), e depois a peregrinação de Jesus ao templo quando ele tinha doze anos (2:46), possivelmente implicando seu bar mitzvah.

      Ele não menciona o papel de Caifás na crucificação de Jesus e enfatiza a ressurreição literal de Jesus (24:39), incluindo uma ascensão ao céu como um reino de existência espiritual (24:52; Atos 1: 1).

      Lucas também parece enfatizar os argumentos de Jesus com os saduceus em questões como bases legais para o divórcio, a existência de anjos, espíritos e uma vida após a morte (os saduceus não acreditavam na ressurreição dos mortos).

      Lucas está tentando usar as refutações e os ensinamentos de Jesus para quebrar a filosofia dos saduceus, e de Teófilo, talvez com a esperança de que Teófilo usasse sua influência para fazer com que os saduceus parassem de perseguir os cristãos.

      Pode-se também considerar o evangelho de Lucas como uma referência alegórica (רֶמֶז remez) a Jesus como “o homem chamado ramo” profetizado em Zacarias 3: 8; 6: 12-13, que é o sumo sacerdote supremo prenunciado pelo sacerdócio levítico.
      ————————————————————————————————————–
      Os Evangelhos em Hebraico foram descobertos na biblioteca do Vaticano. O phd em linguística Miles Jones fala dos manuscritos do Novo Testamento em hebraico, no livro “Sons of Zion Vs Sons of Greece: Volume One: Survival of The Hebrew Gospels & the Messianic Church”. A Grécia não era o objetivo dos Evangelhos. Vocês estão lendo um texto Judaico.

      A língua de Jesus e dos Apóstolos era o Hebraico:

      Homens, irmàos e pais, ouvi agora a minha defesa perante vós
      (E, quando ouviram falar-lhes em língua hebraica, maior silêncio guardaram)….
      Atos 22:1,2

      E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava, e em língua hebraica dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões.
      Atos 26:14

      A língua em que Jesus proferiu os seus discursos, e que foi vivido o Novo Testamento, era o Hebraico!

      Portanto, ainda que haja manuscritos Gregos, eles só irão refletir as palavras que foram ditas e vividas em Hebraico.

      Vamos deixar a Grécia e voltar para Israel!

      • Eurico Silva Ramos disse:

        No tempo de Jesus falavam aramaico, não hebraico. Hebraico era uma língua morta como o latim. Era uma língua litúrgica para ser lida nas sinagogas e pelos eruditos da nação judaica. Os rabinos e os sacerdotes. Ou estou errado? Abr.

        • Israel Silva (Israel Ben Derech) disse:

          Está errado! Os manuscritos do Mar Morto, as cartas de Bar Kochba, revelaram que o hebraico era uma língua viva, usada no dia a dia, no tempo de Jesus.

          Além disso, o Evangelho de Lucas nos informa que a acusação de Jesus, escrita em uma tábua e pendurada sobre a sua cabeça estava escrita em grego, latim e hebraico:

          E também por cima dele, estava um título, escrito em letras gregas, romanas, e hebraicas: ESTE É O REI DOS JUDEUS.
          Lucas 23:38

          Há outros textos em vemos Jesus e o Apóstolo Paulo falando diretamente a língua hebraica:

          Homens, irmàos e pais, ouvi agora a minha defesa perante vós
          (E, quando ouviram falar-lhes em língua hebraica, maior silêncio guardaram)….
          Atos 22:1,2

          E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava, e em língua hebraica dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões.
          Atos 26:14

          Agora senhores, essas são provas textuais, tiradas do próprio Novo Testamento, e que vocês deveriam parar de ignorar!

          A não ser que vocês não acreditem mais no Novo Testamento.

          No Talmude de Jerusalém, Pesahim 37d, há registro informando que o hebraico era usado nos mercados de Jerusalém como língua do dia a dia.

          Há muitas provas, por isso recomendo a leitura da revista Jerusalem Perspective, edição nº 30.

          Vocês se surpreenderão com a quantidade de achados arqueológicos que provam o hebraico como língua dos Judeus da época de Jesus, e do Novo Testamento, claro, juntamente com o Aramaico (que era mais comum no norte, na Galileia).

  2. Luciano da Silva disse:

    Olá sou apenas um leigo, mas gostaria de fazer uma observação,
    Em Êxodo 6,23 lê-se: Aarão casou se com Isabel, filha de Aminadab e irmã de Naasson.
    A meu ver houve uma junção de duas tribos, Isabel e Zacarias descendem de Aarão e Isabel (tribo de Levi), já José e Maria como você mesmo ensinou de Naasson (tribo de Judá).
    Logo me parece que de fato Isabel e Maria eram primas de fato já que Isabel e Naason filhos de Aminadab eram irmãos.

  3. Carlos Duarte disse:

    Tribo de Israel, 12 tribos, então, todos os dependentes destas, são parentes.

  4. Adilson Costa disse:

    O Mais importante do texto não é que grau de parentesco Isabel tinha em relação a Maria.
    Mas
    1- O milagre da Estéril Isabel passar a ter a possibilidade de engravidar
    2- Isabel ao ver Maria, a criança João Batista se mexeu em seu ventre e ela ficou cheia do Espírito Santo

    O resto são narrativas de menos importância
    E ponto final

    • Israel Silva disse:

      Compreendo o seu ponto de vista, porém em se tratando de estudos bíblicos, não podemos decretar um “ponto final”. A discussão teológica é fluida.

  5. Alexandre Victor disse:

    Olá, sou mero aprendiz, mas curioso: Porque em Mateus na geração de Jesus Cristo, não fala de Moisés, Josué, Ló e Jó?