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A História de Zaqueu o Publicano | Quem era Zaqueu? | Estudo Bíblico

No Evangelho de Lucas 19:1-10, encontramos a história de Zaqueu o Publicano. Lucas inicia o capítulo 19 relatando que Jesus entrou em Jericó:

E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando.
Lucas 19:1

E essa entrada de Jesus em Jericó é muito significativa, pois a Jericó da época de Jesus foi edificada ao redor da antiga cidade que Josué e o povo de Israel destruíram as suas muralhas no passado.

E é interessante o fato de que a entrada de Jesus nessa cidade, fez com que o Mestre tivesse dois encontros que passaram para a história da fé. O primeiro encontro foi narrado por Lucas, entre Jesus e Zaqueu.

O segundo encontro está registrado no Evangelho de Marcos 10:46-52, que ocorreu na saída da mesma cidade, entre Jesus e o cego Bartimeu.

Foram dois encontros, dois personagens que tinham vidas totalmente diferentes, e que ocupavam posições sociais também com enormes diferenças. Zaqueu era chefe dos Publicanos, era rico. Bartimeu era um pobre cego maltrapilho que mendigava.

Eles praticamente viviam em “dois mundos” totalmente diferentes. Havia uma divisão/separação colossal entre eles. E o que chama a atenção nessas duas histórias, é que elas se passam em Jericó, a cidade das antigas muralhas.

Muros, muralhas, falam de divisão e separação entre as pessoas. Há tantas barreiras sociais que são erguidas. E os muros daquela cidade “insistiam em continuar de pé”, mesmo depois de Josué tê-las derrubado.

Basta olhar para as histórias da vida de Zaqueu, rico, e Bartimeu, mendigo, que habitavam a mesma cidade. Contra esse tipo de “barreiras”, somente o sangue de Jesus tem o poder de desfazê-las de uma vez por todas.

E este é o tema dos nossos próximos dois estudos bíblicos. Vamos começar a derrubar as muralhas de Jericó, hoje, conhecendo a primeira face dessa mesma moeda, a história de Zaqueu o Publicano.

Mas antes de iniciarmos, gostaria de fazer um pequeno disclaimer:  A primeira Jericó ficou inabitada, mas era uma pequeníssima parte que tinha apenas 800 metros de diâmetro e foi englobada pela cidade da época de Jesus.

Quem eram os Publicanos

No tempo em que o Império Romano ocupou as terras de Israel, Roma cobrava pesados impostos dos Judeus. Esses impostos, muitas vezes eram recolhidos de forma indireta, por meio de outros Judeus, que adquiriam o direito de cobrar os impostos de seus compatriotas.

Os Publicanos eram os Judeus coletores de impostos de seus próprios irmãos de nação, mas em favor dos Romanos. Só por esse fato, os Publicanos já eram considerados traidores, pela população Judaica.

Havia um outro agravante, pois alguns (para não falar muitos) Publicanos cobravam mais impostos do que realmente deveriam. Era um tipo de extorsão, que tornava fazia crescer o ódio contra os cobradores de impostos.

Quem era Zaqueu?

Zaqueu era chefe dos Publicanos na cidade de Jericó. Ele comandava e organizava toda a coleta de impostos para os Romanos, controlando, certamente, uma grande soma de dinheiro. O texto de Lucas nos informa que ele era rico:

E eis que havia ali um homem chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico.
Lucas 19:2

Os Publicanos, como falamos anteriormente, não raramente se envolviam com a corrupção, na ânsia de se tornarem ricos. Os demais Judeus não os consideravam mais como parte do povo de Israel.

Eles não podiam frequentar os locais do culto Judaico, a Sinagoga, nem muito menos eram aceitas as suas ofertas ou sacrifícios no Templo em Jerusalém.

Os Publicanos, na visão religiosa, tinham o mesmo status dos pecadores, prostitutas e leprosos. Eles eram considerados impuros, e eram evitados a todo custo pela elite religiosa de Jerusalém.

Zaqueu o puro impuro

É interessante analisar o status de impureza religiosa de Zaqueu. Veja que quando Jesus vai à casa dele, há uma murmuração por parte dos ultra-ortodoxos:

E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador.
Lucas 19:7

As palavras “homem pecador”, correspondem aos termos Hebraicosאִישׁ חוֹטֵא “ish chote” (lê-se ísh rote), que significam “homem cheio de pecados”, “homem reprovável”. Veja que Lucas está atestando a condição corrupta da vida de Zaqueu.

Por isso ele era considerado impuro. Entretanto, o nome Zaqueu em Hebraico é זַכַּי “Zakay”, que significa “minha pureza“, e vem da raiz verbal לְזַכֵּך “lezaker”, “purificar“.

Não posso de deixar de compara com o significado do nome do cego Bartimeu, que significa “filho da minha impureza“. Mas isso veremos em detalhes no próximo estudo.

Mas veja a tão boa intenção dos pais de Zaqueu, que lhe deram um nome que chamava de “minha pureza”. Certamente seus pais deveriam ser Judeus piedosos, servos do Eterno.

Mas o filho da pureza se perdeu, se corrompeu, como aconteceu com o filho pródigo.

Por que em Jericó?

Zaqueu vivia em Jericó, de forma estratégica, montou ali o seu “quartel general”, comandando os outros Publicanos. Jericó era uma cidade muito importante na época do Novo Testamento.

Por estar localizada na região semi-deserta do chamado “fosso do Jordão” (que está abaixo do nível do mar, e que recebe pouquíssima chuva durante o ano), o seu clima permanece bastante agradável durante o inverno.

Essa temperatura contrasta com a de Jerusalém, que devido à sua altitude (Jerusalém está localizada em uma montanha com 800m de altura), possui um clima muito frio no inverno, com temperaturas abaixo de zero.

Naquela época do ano, os reis de Judá buscavam refúgio em Jericó, para escapar do frio de Jerusalém. Até hoje há ruínas dos palácios que foram construídos ali, para abrigar a realeza de Israel.

Além disso, a rota de comércio, desde o Egito, até os reinos da Síria e Babilônia, passavam por ali, fazendo com que fosse um local de recolhimento de impostos das caravanas de comerciantes que ligavam esses centros comerciais da antiguidade.

Estrategicamente, Zaqueu se estabeleceu em um local onde podia estar próximo à realeza e as rotas comerciais, dando-lhe mais oportunidades financeiras.

A história de Zaqueu o Publicano

Ele tinha dinheiro e possuía muitos bens, mas faltava algo (no seu coração, sabia que não estava correto). Pelo seu nome, pode-se facilmente deduzir que foi criado por pais humildes e tementes a Deus.

Com certeza foi ensinado nos caminhos do Senhor, ensinado a respeitar a Lei e os Profetas. Porém a cobiça, o desejo pelas facilidades que o dinheiro e a riqueza podem trazer, falou mais alto.

Acabou se entregando, errou o caminho. Mas a semente que foi plantada na sua infância permanecia, ainda que tímida, escondida, mas estava plantada no fundo de sua alma.

E um dia, a fé veio pelo ouvir, e o ouvir veio pela palavra de Jesus. É por isso que Lucas descreve que Zaqueu procurava ver quem era Jesus:

E procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura.
Lucas 19:3

É interessante a palavra que Lucas usa para descrever o motivo, pelo qual Zaqueu não era capaz de ver Jesus. Lucas diz que ele era de “pequena estatura“.

No original, em Hebraico, foi usado o termo נָמוּךְ “namuch” (lê-se namúr) – “baixa“; e o termo קוֹמָה “qomah” (lê-se comáh) – “elevação/estatura”.

Poderíamos traduzir também, o motivo, como “porque era de baixa elevação“. E o que essa tradução pode nos revelar sobre a história de Zaqueu?

…A oferta chamada de sacrifício, que era oferecida pelos pecados, no Templo em Jerusalém, pelos Sacerdotes, tinha por nome עוֹלָה “olah” “oferta de elevação“, por que o animal oferecido era totalmente queimado, e a sua fumaça subia diante do Eterno, como cheiro suave.

Lucas nos transmite a ideia de que Zaqueu não possuía uma elevação espiritual necessária para ver Deus (Jesus). Zaqueu precisava se elevar espiritualmente para se aproximar do Mestre.

Era necessário que os pecados e a impureza de Zaqueu fossem perdoados e limpos. Mas como seria isso, se o homem não tem o poder de expiar os seus próprios pecados?

Zaqueu sobe no sicômoro

Os frutos da figueira brava tem uma perfuração na parte inferior.

E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver; porque havia de passar por ali.
Lucas 19:4

Zaqueu precisava de algo que pudesse fazer a sua religação com o Deus. Foi nesse momento que ele correndo, subiu a uma figueira brava, chamada de sicômoro.

Em Hebraico, o nome dessa árvore é עֵץ שִׁקְמָה “etz siqmah” (lê-se etis siquimáh). A palavra עֵץ “etz”, significa madeira/árvore. E como é uma palavra masculina em Hebraico, a melhor tradução seria “madeiro”.

Em outra tradução, poderíamos dizer que, para ver Jesus, “Zaqueu subiu no madeiro“. E nós sabemos que Jesus foi crucificado no madeiro para nos trazer a purificação dos nossos pecados.

Subir no madeiro“, significa dizer que Zaqueu recorreu a um símbolo da crucificação de Jesus, para ter também os seus pecados perdoados. E a palavra usada para o termo “subiu”, é עָלָה “alah”, “elevou”, da mesma raiz do nome da oferta de elevação עוֹלָה “olah”.

Além disso, o sicômoro tem um fruto que é naturalmente perfurado. Isso é outra alegoria para a crucificação de Jesus, quando as suas mãos e pés foram perfurados no madeiro.

Zaqueu se elevou espiritualmente, quando subiu em um símbolo do preço que foi pago pela remissão dos pecados. Ele buscou refúgio no símbolo da crucificação de Jesus.

E quando o homem busca o refúgio da cruz, Deus verdadeiramente o encontra, pois Ele procura os que assim o adoram.

Desce depressa

E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa.
Lucas 19:5

Zaqueu conseguiu chamar para si a graça de Deus, e Jesus vendo-o, dá uma ordem, “desce depressa”. No original, em Hebraico, o Mestre usou o verbo לָרֶדֶת “larédet”, que significa “descer/declinar/diminuir”.

Ou seja, em outra tradução, ou mesmo em outro nível de interpretação, Jesus disse “se diminua/se humilhe, pois hoje vou estar na sua casa/coração“, pois Deus só pode habitar em corações humildes.

A vida veio a esta casa

E de repente, em meio a visita, Zaqueu se levanta. O verbo usado é לָקוּם “laqum”, da mesma raiz que aparece por toda a história de Zaqueu – קוֹמָה “qomah” – “elevação“. Isso equivale dizer que ele estava se elevando espiritualmente.

Veja que nenhuma palavra foi dita, nada foi pregado ainda, mas a simples presença de Jesus é suficiente para transformar a vida e o coração do chefe dos Publicanos.

E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado.
Lucas 19:8

Esta é uma verdadeira declaração de arrependimento. Ele usa para defraudado, o verbo לַעֲשׁוֹק “laashoq”- “explorar/extorquir”. E se compromete em cumprir os mandamentos do Eterno, que previa uma indenização de quatro vezes o valor tomado indevido.

Se alguém furtar boi ou ovelha, e o degolar ou vender, por um boi pagará cinco bois, e pela ovelha quatro ovelhas.
Êxodo 22:1

No início do nosso estudo bíblico, falamos do “muro de Jericó”, que insistia em permanecer dividindo as pessoas, em classes sociais, em puros e impuros, em santos e pecadores.

Pois, bem, Jesus começa com Zaqueu a destruir esse muro [invisível] de uma vez por todas. O primeiro sinal pode ser visto nesta declaração de acima, pois o chefe dos Publicanos iniciou a sua fala com as palavras, “eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens“.

Do “outro lado do muro”, estavam os pobres, e os explorados, como era no caso de Bartimeu. E a mudança na vida do chefe dos coletores de impostos, faria com que os seus subordinados tivessem uma conduta mais justa.

E ainda, a doação, a divisão e o compartilhamento da metade dos seus bens com os pobres, faria com que o muro da diferença social também tivesse uma grande redução naquela cidade.

A obra de Jesus é essa, de resgatar e salvar as ovelhas perdidas da casa de Israel.

E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão.
Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.
Lucas 19:9,10

E a obra de Jesus em Jericó, seria completada na saída daquela cidade, quando Ele encontra com Bartimeu, de forma a destruir as muralhas da separação e da acepção de pessoas. Mas esse será o nosso próximo estudo.

Mas ai de vós, ricos! porque já tendes a vossa consolação.
Lucas 6:24

Israel Silva

Cursou hebraico bíblico, geografia bíblica, Novo Testamento, e estudos do Apocalipse; é especialista em estudos da Bíblia, certificado pelo Israel Institute of Biblical Studies. Autor do livro Gênesis, o Livro dos Patriarcas.

Veja comentários

      • Paz pastor Israel Silva meu nome é Rick talvez apareça o e-mail da minha esposa porque estou usando o e-mail dela.
        Olha, gostei muito do esclarecimento a cerca da História de Zaqueu pois essa é uma História que traz muitas divergências de interpretação da História de Zaqueu, gostaria de saber se posso usar partes desse estudo e também as informações hebraicas para incluir em minhas pregações quando eu estiver falando dessa História ? Grato Rick

  • Agradeço a Deus por sua vida; que o Eterno continue te usando para nos abençoar com estudo tão maravilhosos. Tenho aprendido muito.
    Obrigada

  • Estudo edificante e com muita clareza dos fatos, demonstrando um conhecimento histórico dos personagens bíblicos, acredito pela formação acadêmica que ele possui, parabéns que Deus eterno continue lhe usando!!

  • Bela explanação em riqueza de detalhes e pontuações pertinentes que demostram ainda mais a beleza e riqueza que essa passagem trás. Jesus em seu infinito amor disponível para qualquer um que se arrependa e nele creia....

  • OH MEU IRMÃO QUE BENÇÃO SEUS OS ESTUDOS QUE VOCÊ TEM COMPARTILHADO. QUE O SENHOR CONTINUE TE SUSTENTANDO E USANDO, PRA GLÓRIA DELE...

  • Gostei muito do estudo sobre a história de Zaqueu. Esclarecedora do ponto de vista espiritual. Parabéns!

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