A Diáspora Judaica no Oriente | Introdução ao Novo Testamento

A Paz meus irmãos, meus amigos! Com esse novo site, o brasilgospel.club, queremos formar um verdadeiro Clube de Pregadores da Palavra de Deus.

O nosso objetivo é democratizar o conhecimento bíblico para todos os Cristãos, independente de denominações. Vamos juntos estudar a vida de Jesus Cristo. Vamos conhecê-lo com muito mais profundidade.

Com isso, quero dizer que este blog será dedicado a estudos que vão além da superficialidade, e para isso precisamos entender o tempo e a cultura da época em que Jesus nasceu.

É preciso ter em mente, também, que Jesus era Judeu. Por isso vamos estudar a vida e a obra de Jesus, claro que no contexto Cristão, mas sempre levando em consideração a Sua origem judaica, bem como o meio religioso em que o nosso Mestre se achava.

Os Fatores que Influenciam a Interpretação Bíblica

Eu sou Cristão, mas para entender a vida do nosso Salvador precisamos compreender as raízes hebraicas do Cristianismo. Pra isso vamos usar nos nossos estudos bíblicos os fatores:

  • Culturais – Jesus nasceu e viveu imerso na cultura dos Judeus, os descendentes de Abraão, portanto Ele falava, vestia e se comportava como tal;
  • Linguísticos – a língua que os Judeus falavam na época de Jesus era o Hebraico e o Aramaico (este último foi devido ao exílio babilônico, e a língua da Babilônia era o Aramaico), pois os textos bíblicos foram escritos primeiramente nessas duas línguas;
  • Geográficos – as histórias do Novo Testamento estão repletas de citações de lugares, montes, cidades, vilas, lagos, mares, rios. Essas informações quando combinadas aos outros fatores citados acima, ajudam muito a esclarecer o sentido mais profundo das passagens.

Portanto, a partir deste artigo em diante, vamos iniciar o uma introdução aos Evangelhos, e a todo Novo Testamento.

Vamos explorar o mundo Judaico da época do nascimento de Jesus, vendo os principais fatores que influenciavam a sociedade Israelita do primeiro século, e que tiveram um potencial para também influenciar os primeiros Cristãos, discípulos e Apóstolos do nosso Senhor.

A Diáspora Judaica no Oriente

diaspora judaica mapa

Havia a Dispersão Ocidental, ou Helenista (Dispersão dos Gregos) e a Dispersão Oriental ou dos Hebreus, na Época de Jesus e dos Apóstolos.


É um verdadeiro milagre que a religião judaica tenha se preservado mesmo tendo sido o povo de Israel levado ao cativeiro babilônico por setenta anos.

Entre os meios pelos quais a religião de Israel foi preservada, podemos citar um dos mais importantes fatores, que foi a centralização e a localização do culto Israelita em Jerusalém.

Mesmo que atualmente, para alguns, os mandamentos contidos no Antigo Testamento possam parecer desatualizados e sem muito sentido, provavelmente o monoteísmo não teria sobrevivido sem essas previsões que estão descritas nos livros da Lei e dos Profetas.

Isso porque em face da imoralidade e da idolatria que havia no mundo antigo, e se tomarmos a tendencia que Israel seguia logo nos primeiros anos de sua existência como nação, vamos concluir que realmente foi necessário uma maior isolamento das outras nações (mesmo que momentaneamente), para que se mantivesse o monoteísmo livre dos elementos pagãos que se mostraram faltais a sua existência.

Por isso, o exílio na Babilônia por setenta anos era de um risco iminente da contaminação de toda uma geração com a idolatria desenfreada que os povos daquele reino praticavam.

E nesse respeito, mesmo o, tão criticado hoje em dia, tradicionalismo, teve o seu lugar de importância na conservação da observação e da transmissão dos mandamentos que Deus havia dado ao Seu povo no monte Sinai.

Jerusalém Continuava como Referência na Diáspora

jerusalém

Uma Mesquita Islâmica ocupa o lugar do Templo em Jerusalém.


Então, como estava a comentar, a centralização do culto Israelita em Jerusalém serviu como base para que mesmo fora das terras dos patriarcas, os Judeus pudessem ter uma referência que os levava de volta à adoração ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó.

Isso é manifestado quando lemos a história do Profeta Daniel que orava por três vezes ao dia, voltando-se de joelhos em direção à cidade de Jerusalém.

Isso é fantástico analisar, porque, veja, um Romano ou um Grego, ou mesmo um Oriental, qualquer um deles poderia levar os seus deuses de barro, de pedra, de madeira ou de metal com ele para onde quer que fossem.

Mas para um Judeu, naquela época, não era assim. Era muito ao contrário, pois ele tinha apenas um Templo (em Jerusalém); e apenas um só Deus, o Deus de Abraão.

E o Templo era, naquela época (e novamente, temos que contextualizar e dizer “naquela época” porque Jesus terminou com a necessidade de se oferecer sacrifícios de animais), o único lugar no universo em que um Sacerdote Levita poderia oferecer sacrifícios aceitáveis para o perdão e a comunhão com o Eterno Deus.

A Importância do Templo para o Novo Testamento

o templo de jerusalém

O Templo era o centro da religião Judaica.


E dentro do Templo havia o lugar mais separado do universo, em que o Sumo Sacerdote só poderia entrar uma vez ao ano, para fazer a mais solene cerimônia de expiação pelos pecados da nação.

Era lá que ficava a Arca da Aliança, e do Altar de Ouro saía uma nuvem de incenso que simbolizava as orações dos santos. O Candelabro de Sete Braços dava a sua luz contínua, uma simbologia da luz perpétua de Deus e da Sua presença – “…Eu sou a luz do mundo…“.

Havia uma mesa, e nela, como que se perpetuamente estivessem diante de Jeová, os pães da proposição, que em Hebraico são chamados de lechem haPānīm לחם הפנים, os “Pães da Face”. Eles eram feitos a cada semana, uma constante refeição sacrificial que representava o corpo do próprio Jesus.

Ali também se achava o Altar do Sacrifício, onde se queimava as ofertas diárias e as festivas, trazidas por todo Israel, tanto dos que estavam na Terra Prometida, quanto dos que ainda se encontravam na diáspora, isto é, fora das terras dos Patriarcas.

O Templo não era referência apenas para os Israelitas naturais da Palestina, mas para todos os Judeus que estavam em todas as nações debaixo dos céus.

Era em torno do Templo de Jerusalém que se reunia as memórias passadas e as melhores expectativas para o futuro. Era por meio da religião Israelita que os Judeus enxergavam a sua história, e podemos dizer que sem a religião eles não possuíam história.

De forma que podemos afirmar que a religião, a história, a esperança e o patriotismo Israelita estavam todos apontando para Jerusalém e para o Templo como o centro, o ponto de união e da unidade de todo o Israel de Deus.

Israel Ressurgiu de Várias Diásporas

A nação Israelita poderia estar passando por uma depressão, mas nada parecia abalar a sua confiança em Deus. Mesmo que um Idumeu, Herodes, tenha usurpado o trono do rei Davi.

Israel passou no meio das profundezas do Mar Vermelho, e saiu triunfante do outro lado. Por muitos séculos eles foram escravos no Egito, mas foram libertos e cantaram com júbilo naquela manhã memorável.

Muitas vezes as suas harpas foram tocadas às margens dos rios que cortavam a cidade que deu nome a um império colossal, a Babilônia. Mas o império ruiu e se tornou pó, enquanto que Israel retornou para a sua terra e floresceu novamente como uma árvore plantada junto às águas.

A Opressão dos Gregos e a Vitória dos Macabeus

E neste tempo da história dos Judeus, pouco mais de um século e meio havia passado desde a maior ameaça à fé e à própria existência de Israel. O rei Grego-Sírio Antíoco IV Epifânio proibiu a religião Judaica, e procurou destruir a Bíblia, que era composta do Pentateuco (a Torá), dos Profetas, e dos Escritos (os livros poéticos como os Salmos).

Ele violou a santidade do Templo, e o dedicou os Pães da Presença ao deus Grego Zeus do Olimpo. Sacrificou ofertas a esse ídolo horrível, no Templo do Senhor. E dois Sacerdotes apóstatas o ajudaram com essa maldade.

Porém, das montanhas de Efraim Deus levantou homens fiéis que não se deixaram contaminar com a idolatria dos Gregos. Três anos depois eles, os Macabeus, tinham, com um exército quase que amador, derrotado os Grego-Sírios e Judas Macabeu procedeu a purificação do Templo.

Ele restaurou o Altar no mesmo dia que a abominação da desolação tinha sido colocada. Foi o pior momento da história da religião Israelita, mas novamente começava a brilhar a luz da esperança.

candelabro de ouro

O óleo do Candelabro milagrosamente durou oito dias sem ser reabastecido.


Quando os Macabeus rededicaram o Templo, havia óleo para manter a Menorá, o Candelabro de Ouro, por apenas um dia. Mas milagrosamente o óleo durou oito dias, tempo suficiente para que mais óleo puríssimo fosse fabricado e consagrado. Este milagre ficou conhecido como a Festa da Hanucá.

Jesus passeou no Templo durante esta festa, que no Novo Testamento é chamada de Festa da Dedicação:

E em Jerusalém havia a festa da dedicação, e era inverno.
E Jesus andava passeando no templo, no alpendre de Salomão.
João 10:22,23

A Dispersão Voluntária

E a partir desse momento, os Judeus que viviam na Terra Prometida eram a minoria. A maioria da nação era constituída pelos Judeus que estavam fora de Israel, e que ficaram conhecidos como a Dispersão. Este termo não expressava mais um significado de banimento e punição pelo juízo divino.

Agora, a permanência fora da Palestina era totalmente voluntária, pois os Judeus prosperaram nas terras que foram habitar por ocasião do exílio.

Por isso Flávio Josefo disse que “não há nação no mundo que não tinha tido entre eles parte do povo Judeu”, uma vez que eles foram largamente espalhados por todo mundo, entre os seus habitantes.

“Não há nação no mundo que não tinha tido entre eles parte do povo Judeu”. Historiador Flávio Josefo.

Cerca de cento e cinquenta anos antes, os Judeus possuíram muitos privilégios no Egito. Setenta anos depois, o historiador Grego Estrabo testemunhou a presença deles em toda a terra.

Fílon de Alexandria, o filósofo Judeu, testemunha dessa dispersão, mas também da solidão dos Israelitas que estavam em meio o mundo pagão da época. Eles formavam uma nação vasta e grande, que estava dispersa por todo o mundo, e se tornou uma nação mundial.

A Diáspora no Oriente

E essa noção de nação mundial, talvez se aplique mais nos povos que eram do Oriente do que na diáspora ocidental. A conexão dos Judeus do Oriente era tão grande com a Palestina e com Jerusalém que eram vistos quase que uma continuidade da Terra Prometida, mesmo sendo fora de Israel.

Veja o caso do Apóstolo Pedro que foi pregar aos Judeus da Dispersão na Babilônia:

A vossa co-eleita em babilônia vos saúda, e meu filho Marcos.
1 Pedro 5:13

Quando havia a Festa das Semanas, ou a Shavuot, também chamada de Pentecostes, em Jerusalém, os Judeus de todo o mundo se reuniam naquela cidade, conforme atesta o livro de Atos dos Apóstolos:

E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu. Atos 2:5

Estes eram os que vinham da dispersão, e eram divididos em duas grandes partes:

  • Os que vinham do Oriente (das terras que ficavam depois do rio Eufrates), os Partos, os Medos, os Elamitas que habitavam na Mesopotâmia; e
  • Aqueles que vinham do Ocidente – os Helenistas, que eram chamados no Novo Testamento de “a dispersão dos Gregos“, que viviam entre os “Gregos”.

Vós me buscareis, e não me achareis; e onde eu estou, vós não podeis vir.
Disseram, pois, os judeus uns para os outros: Para onde irá este, que o não acharemos? Irá porventura para os dispersos entre os gregos, e ensinará os gregos?
João 7:34,35

Os Judeus que habitavam as terras que ficavam a oriente do rio Eufrates, na Babilônia e outras satrapias, eram incluídos em uma categoria que recebia o nome de “Hebreus” porque eles falavam a mesma língua, o Hebraico e o Aramaico.

Foi para esse grupo que o Apóstolo Paulo direcionou a sua carta chamada Aos Hebreus.

 O Conflito Entre os Helenistas e os Hebreus

A diferença entre os Judeus chamados “Gregos” e os chamados “Hebreus” era mais do que somente a língua que falavam. Havia influência da forma como cada parte pensava e enxergava o mundo. Os “Hebreus” buscavam se isolar do restante do mundo, como uma forma de se blindarem contra o paganismo.

Os Helenistas estavam literalmente “no meio das outras nações” pagãs da época. Eles naturalmente sofriam essas influências e tentavam se adequar à cultura em que estavam inseridos, mas contudo sem se deixarem contaminar pela idolatria. Eles também tinham um forte desejo de serem vistos como iguais aos seus irmãos do Oriente.

Porém os Fariseus, com todo aquele orgulho de pureza legal e cerimonial, e também porque eles tinham o controle da Tradição Judaica em suas mãos, deixavam muito claro o seu descontentamento e desprezo para com os Helenistas.

Os Fariseus declararam abertamente que os Judeus “Gregos” eram muito inferiores aos Judeus da dispersão Oriental-Babilônica.

Essa divisão e suspeição entre eles era de tal amonta que mesmo na Igreja dos Apóstolos houve disputas entre os Helenistas e os “Hebreus” no que tange o tratamento recebido ora por uma parte, ora por outra:

Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano.
Atos 6:1

Foi por causa dessa disputa que os Diáconos foram instituídos.

O Israel, Fora de Israel

O fato é que a liderança do Judaísmo normativo considerava que a Babilônia, a Síria e até Antioquia (bem ao norte), faziam parte da Terra de Israel. Qualquer outro local era tido como terras gentílicas.

Havia o reforço histórico-cultural, pois o Rei Davi havia conquistado essas terras no passado, fazendo com que elas fossem percebidas como parte de Israel. Mas era entre os rios Tigre e Eufrates que a maior e mais rica parte da dispersão Judaica estava vivendo.

Eles construíram em Nehardea, cidade da Babilônia situada na junção do rio Eufrates com o rio Malka (atual cidade de Faluja) uma sinagoga que se diz ter vindo do tempo do Rei Jeconias, feita com as pedras que foram trazidas das ruínas do Primeiro Templo de Jerusalém.

Esta cidade era fortificada e reuniu muitas e vastas contribuições para a reconstrução do Segundo Templo. Essas riquezas foram trazidas de volta a Jerusalém, no final do exílio babilônico, escoltadas por milhares de homens Judeus.

Outra das cidades fortificadas dos Judeus, na Mesopotâmia, era Nisibis (veio a ser mais tarde uma cidade importante para o Judaísmo Rabínico), que ficava na atual Turquia. Essas cidades-tesouros mostram o quão grande a população Judaica era, mesmo estando fora das terras de Israel, e quão grande foi a sua influência naquelas sociedades.

A Minoria dos Judeus Voltou do Exílio

É importante dizer, para melhorar a nossa compreensão do Novo Testamento, que no que se refere à diáspora no Oriente, que somente a minoria dos Judeus retornou para casa depois que terminou o exílio da Babilônia. Segundo Flávio Josefo (Antiguidades xi. 5. 2; xv. 2. 2; xviii. 9), e Fílon de Alexandria, somente 50 mil voltaram, primeiramente com Zorobabel e depois com Esdras.

E não foi só a minoria em termos de quantidade, mas de fato os mais ricos e influentes permaneceram na Babilônia. O povo de Israel ficou bastante dividido a partir daquele ponto na história.

Novamente, Josefo e Fílon concordam que milhões de Judeus continuaram a habitar nas províncias que ficavam além do rio Eufrates. Essa população era tão unida que tinham um poder político muito grande e passaram a ser tratados com mais cuidado pelo Império Persa.

Os Judeus Babilônios Se Consideravam Superiores

O Sanhedrin (Sinédrio) em Jerusalém se correspondia com os Judeus da Babilônia por meio se sinais de fogo, que eram fogueiras acessas no topo de montanhas. Essas fogueiras enviavam sinais de montanha à montanha até que se pudesse avistá-los do oriente, com o objetivo de unificar o calendário festivo dos Judeus da dispersão.

Isso porque aqueles que permaneciam na diáspora babilônica eram considerados como no mesmo nível dos Judeus que estavam na Palestina, porém algumas vezes os da dispersão oriental eram ainda mais considerados do que os próprios Judeus de Jerusalém.

Com base no calendário festivo de Jerusalém, os Dízimos e as Ofertas chamadas de Terumá eram devidas pelos Judeus Babilônicos ao Templo de Jerusalém. Já os Bikurim, que eram os Primeiros Frutos da colheita eram devidos apenas por aqueles que estavam na distância máxima até a Síria.

(PS: Os Israelitas do norte, os Samaritanos, em conflito com os Israelitas do sul, os Judeus, muitas vezes acendiam essas fogueiras nos topos de suas montanhas para atrapalhar essa comunicação.)

Com as outras nações era diferente, pois até mesmo o pó de suas terras era considerado impuro. Vejo uma grande ironia de Jesus em relação a essa consideração Farisaica para a poeira da terra das nações gentílicas:

 E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés.
Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para o país de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade.
Mateus 10:14,15

O solo da Síria foi considerado como puro. E a pureza genealógica era algo que preocupava muito a liderança Judaica da época. Nesse aspecto, os Judeus Babilônicos se consideravam superiores aos da Palestina.

Eles acreditavam que quando Esdras tomou consigo aqueles que voltaram para Jerusalém, ele tinha deixado a terra da Babilônia em estado de pureza (Talmude Kiddushin 69b).

A pureza Genealógica da Diáspora do Oriente

A pureza genealógica dos Judeus que habitavam as terras dos gentios, era comparada com a pureza da Palestina (a Terra de Israel) e de Jerusalém como um tipo de “massa com fermento” (e aqui o fermento simboliza a impureza).

A Terra Prometida e a Babilônia de equivaliam em “pureza”. E era verdade que houve um grande esforço para se preservar um histórico acurado das genealogias dos Judeus. E esse mérito se deve a Esdras, que Flávio Josefo também reconhece.

O registro histórico das genealogias dos Sacerdotes era mantido no Templo, apesar de que as autoridades Judaicas também mantinham um registro geral, que Herodes mandou queimar.

Dali por diante a pureza dos Judeus da Babilônia se tornaria ainda mais considerada. Eles acreditavam que a Terra de israel devia tudo a Esdras, o Babilônio. Um homem que de acordo com a Tradição, a Lei seria dada por intermédio dele, se Moisés não tivesse previamente recebido aquela honra.

O Crescimento do Uso do Aramaico no Novo Testamento

o novo testamento escrito em aramaico

A Tradição Judaica (Talmude) fala das várias novas ordenanças que foi dada a nação por meio de Esdras. É fato que as novas circunstâncias trouxeram mudanças à religião e ao povo de Israel. A língua foi mudada do Hebraico para o Aramaico.

No lugar do Hebraico antigo, aqueles que retornaram da Babilônia, trouxeram o novo Alfabeto Hebraico com letras quadráticas. Agora, tanto a Palestina quanto a Babilônia tinham a mesma língua (conservou-se porém o dialeto Oriental e o Palestino).

E as pessoas comuns do povo eram completamente ignorantes em relação ao Hebraico. As Sinagogas continuavam a ensinar a leitura das Escrituras Sagradas em Hebraico, mas tinham que ser traduzidas para o Aramaico em liturgias públicas. Essa é a origem dos Targumim (traduções em Hebraico).

Os Targumim, isto é, as traduções da Bíblia Hebraica para o Aramaico, que possuem mais autoridade são:

  • O Targum Onkelos – para o Pentateuco, os cinco livros de Moisés, também chamado de Torá; e
  • O Targum Yonatan (Jonatan) – para a tradução dos livros dos Profetas.

Esses são os motivos que nos empoderam a afirmar que o Novo Testamento, principalmente os Evangelhos foram escritos em Aramaico, e não em Grego, pois os Apóstolos falavam o Aramaico.

E mais, esses primeiros Evangelhos foram dirigidos aos Judeus. Somente depois, quando os Apóstolos partem para evangelizar as outras nações é que foram traduzidos para a língua Grega. O Novo Testamento pode ser encontrado em Aramaico, ainda hoje, na compilação chamada de Peshitta.

A versão em Aramaico, a Peshitta do Novo Testamento, ficou em posse da Igreja do Oriente, enquanto que as cópias em Grego ficaram com a Igreja Católica Romana. Podemos citar o manuscrito Grego Codex Sinaiticus.

A Tradição Oral Judaica

E as novas circunstâncias, após o retorno da Babilônia, exigiam uma adaptação da Lei de Moisés. Além da piedade e do zelo, agora eles também passavam a legislar sobre as observâncias externas da Lei, sobre tudo o estudo da letra.

Daí surgiu a Mishná ou Lei Oral, que tinha a intenção de explicar e mesmo suplementar a Lei de Moisés. Mas a Lei Oral ficou muito restrita a visão particular dos Rabinos, ou Sábios, também chamados de Chazal (lê-se razal, (חכמינו זכרונם לברכה, “Nossos Sábios, sejam suas memórias abençoadas”).

Esse estudo resultou na chamada Midrash, que significa “investigação“. Depois, a teologia Judaica se dividiu em duas vertentes:

  • A Halacha (lê-se ralarrá) – vem do verbo Halach, “Caminhar“, e traz as regras de como um discípulo deveria “caminhar” no caminho espiritual. É um conjunto de regras e interpretações Rabínicas que nem sempre seguem os mandamentos deixados por Moisés. E muitas vezes tem mais autoridade do que as próprias Escrituras.

Foi desse tipo de interpretação que Jesus se opôs, pois nenhuma doutrina humana pode ser mais importante do que os Mandamentos que o Eterno Deus estabeleceu para o Seu povo:

Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição?

E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus.
Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo:
…em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens.
Mateus 15:3-9

Não é que a Tradição Judaica seja ruim. Há muita coisa boa nesta Tradição, muitas explicações que clareiam o texto bíblico. Eu mesmo já me beneficiei muito por estudar a tradição. Mas ela não está acima da Bíblia, como alguns Rabinos querem afirmar.

  • A outra parte é a Hagada (lê-se ragadá) – significa “narração”, que é uma reunião de textos usados para se contar as histórias da Bíblia. Pode-se usar Salmos, Provérbios e etc, para complementar a narrativa de um texto, de acordo com a visão de cada Rabino. A Hagadá não tem autoridade como a Halachá.

E o pai do estudo da Halachá foi Hillel, um Rabino com suas origens na Babilônia. E o mais conhecido pai da Hagadá foi Eleazar. Podemos ver que na Babilônia havia essas duas escolas teológicas, e que os Judeus que voltaram do exílio trouxeram para Israel.

A diáspora oriental era intensamente Hebraica e Israelita. De acordo com Fílon de Alexandria, apenas oito dias de viagem os separavam das terras de Israel. E os fatos ocorridos em Jerusalém rapidamente reverberavam na Babilônia.

Foi no Oriente, nas planícies da Arábia que o Apóstolo Shaul, ou Paulo de Tarso, passou os três anos em silêncio, aprendendo para depois reaparecer em Jerusalém. Foi na Babilônia que o Apóstolo Pedro escreveu uma de suas cartas, enquanto anunciava ao restante do povo de Israel que ainda estava no exílio.

Foi da mesma terra do Oriente que vieram os chamados três reis magos para visitar o menino Jesus que acabara de nascer. A volta de Jesus está de alguma forma ligada a essas duas partes do povo de Deus, uma que estava no oriente, e que ainda não retornou (as dez tribos do norte), e a outra no Ocidente (os salvos que estão entre os gentios).

Jesus voltará e reunirá os seus escolhidos novamente em um só povo, um só corpo, formado por Judeus que creem no Seu nome e de Gentios convertidos ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Até o próximo estudo quando continuaremos a Introdução ao Novo Testamento II.

Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem.
Mateus 24:27

Bibliografia: The Life and Times of Jesus the Messiah by Alfred Edersheim; The Gospels and Acts The Holma – Michael Wilkins; Illustrated Life of Jesus – Herschel H. Hobbs; Biblical Geography and History – Charles Foster Kent.

Sobre o autor | Website

Cursou hebraico bíblico, geografia bíblica, Novo Testamento, e estudos do Apocalipse; é especialista em estudos da Bíblia, certificado pelo Israel Institute of Biblical Studies. Autor do livro Gênesis, o Livro dos Patriarcas.

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