NOÉ A ARCA E O DILÚVIO | A HISTÓRIA DE NOÉ – ESTUDO BÍBLICO

O que a história de Noé, da Arca e do Dilúvio, pode ensinar para nós Cristãos do século 21? Quais são os significados das simbologias que cada um dos elementos apresentados na vida de Noé, representam? Será que a história da Arca, dos animais, e da inundação são válidas ainda nos dias de hoje?

O tema do estudo bíblico de hoje, tem sido de certa forma, muito negligenciado nos últimos dias. Talvez tenhamos reduzido essa extraordinária passagem bíblica a um “simples conto infantil”, sendo relegada repetidamente a decorações de festas de aniversário de crianças.

É crescente o número de Cristãos que tem colocado as histórias do Gênesis no campo da mitologia bíblica, não dando crédito ao legado que as Escrituras deixaram como instrução para as gerações de todos os tempos, após o dilúvio.

A história de Noé e o Dilúvio não é algo ultrapassado, não é um mito, não é um conto “infantil”. Ao contrário, é uma passagem bíblica muito atual, e de grande destaque na narrativa bíblica, posto que o próprio Messias, Jesus Cristo, nos alertou de que em algum nível, a geração dos últimos dias seria comparada à geração de Noé.

Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca,
Mateus 24:38

Vamos examinar, neste estudo bíblico, passo a passo, de forma completa a vida de Noé, e as lições que podemos aprender com essa história magnífica (com o auxílio do Hebraico).

O CARÁTER DE NOÉ

O Gênesis inicia a narrativa da história de Noé, dizendo que ele era um homem “perfeito” nas suas gerações. No original corresponde a palavra תָּמִיםtamim“. Vamos ver esse verso em hebraico:

gênesis 6:9 em hebraico, noé era tamim, perfeito

Estudo Bíblico sobre Noé, um homem justo e perfeito.


O interessante de se notar sobre essa palavra, תָּמִיםtamim“, é que ela é usada para a exigência que havia para o cordeiro que era oferecido em sacrifício/oferta de elevação. O cordeiro tinha que ser תָּמִיםtamim“, sem defeito, sem mancha.

Noé tinha o caráter de um cordeiro sacrificial. Me faz lembrar das palavras do Apóstolo Paulo, que nos escreveu na carta aos Romanos algo semelhante:

Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
Romanos 12:1

Nesse verso de Romanos 12:1, a palavra que foi traduzida como “agradável“, é מְקֻבָּלmequbbal“, que está no Particípio masculino singular, e que significa “aceitável“.

E como já vimos, o cordeiro sacrificial, para ser “aceitável”, tinha que ser “tamim“, perfeito. Era como se Paulo estivesse ecoando a história de Noé, como se estivesse dizendo, “apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo e santo, como Noé fazia, em perfeição“.

E qual seria a natureza da perfeição de Noé. Se todos pecaram, como ele poderia então ser “perfeito”?

A FÉ DE NOÉ

Estas são as gerações de Noé. Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com Deus. Gênesis 6:9

No original, em Hebraico, o Gênesis chama Noé de צַדִּיקtsadiq” (lê-se “tisadíqui”), que significa “justo”. Um Tsadiq, ou seja, um Justo, é aquele que vive uma vida na prática da justiça (como Enoque). Justiça implica um comportamento de acordo com uma norma ética, que é viver em acordo com regras morais ( leis de Noé).

Um justo vive em obediência a Deus:

Assim fez Noé; conforme a tudo o que Deus lhe mandou, assim o fez.
Gênesis 6:22

Deus faz as regras que definem o que é moral, e o que não é. A quebra dessas regras é chamada de pecado. A obediência a estas regras é chamada de justiça. Noé era obediente ao Senhor, respeitava as regras morais, por isso foi chamado de justo.

disse o SENHOR a Noé: Entra tu e toda a tua casa na arca, porque tenho visto que és justo diante de mim nesta geração.
Gênesis 7:1

E foi essa justiça de Noé que permitiu a sua salvação, e de sua família, bem como a sobrevivência da humanidade por meio de seus filhos e posteriores descendentes.

Mas isso significa que Noé era perfeito?

É óbvio que ele não era perfeito, no sentido de nunca ter pecado. Ele também pecou, como todos os homens pecaram. Mas por que então o texto diz que Noé era justo? Como explicamos anteriormente, não podemos confundir justiça com perfeição. Noé era justo, mas não perfeito, no sentido clássico da palavra.

A prática da justiça atraiu a atenção de Deus para ele, mas mesmo assim, algo mais entrou em cena para que a salvação pudesse se manisfestar. Aí estamos já falando da Graça de Deus. A graça que se manifestou na vida de Noé.

Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor.
Gênesis 6:8

Então veja que ter uma vida baseada na prática da justiça não significa que tenhamos que ser perfeitos (que nunca pecamos). A perfeição mesmo, sem pecado, só virá quando este nosso corpo corruptível for transformado em um corpo imortal e perfeito. Por agora, o justo viverá pela fé.

Pela fé Noé, divinamente avisado das coisas que ainda não se viam, temeu e, para salvação da sua família, preparou a arca, pela qual condenou o mundo, e foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé.
Hebreus 11:7

Esse grande patriarca demonstrou a sua fé nas coisas que ainda não se via, quando obedientemente construiu a arca. E a obediência dele deixou claro que possuía temor do Senhor. As obras de Noé contribuíram com a sua fé, fazendo que a fé dele se tornasse perfeita.

Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.
Tiago 2:22

A perfeição foi atribuída a Noé por causa da sua fé, que enxergava muito além do momento. Que acreditava que no futuro haveria de acontecer o sacrifício perfeito, que aperfeiçoaria os homens com graça e misericórdia.

A TERRA ESTAVA CORRUPTA

Nos dias de Noé, a corrupção, a violência, e a imoralidade enchiam a terra.

a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente.
Gênesis 6:5

A corrupção que levou ao mundo terminar em um dilúvio, começou centenas de anos antes, com o assassinato de Abel. Depois ter matado Abel, Caim implorou por misericórdia e recebeu-a da parte de Deus. Ao invés de punir caim com a morte, o Eterno colocou uma marca em Caim, para que ninguém o matasse.

Caim foi o pai de uma geração inteira de assassinos. O seu descendente direto, Lameque declarou a sua “lei de homicídios”, com setenta retaliações, o que se tornou a norma daquela sociedade.

Alguns também dizem que os Nefilins foram uma das causas do dilúvio. E se perguntam se anjos tiveram filhos com mulheres. Particularmente não acredito nessa teoria, que pode ser melhor estudada no nosso estudo bíblico chamado, “Nefilins, anjos tiveram relações com mulheres?“.

Acredito firmemente que foi a rebeldia humana, a maldade, os homicídios, o roubo, a corrupção sexual, que foram praticados de forma generalizada, que fez com que Deus se arrependesse de ter criado o homem, e terminado tudo em uma grande inundação.

De forma semelhante, quando Deus afirma que “O fim de toda a carne é vindo perante a minha face“, Gênesis 6:13, a “carne“, aqui, é também o símbolo do desejo descontrolado que levava aquela geração aos apetites e às paixões mundanas, coisas contra quais os Apóstolos também nos advertiram.

Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito.
Romanos 8:5

O PREGOEIRO DA JUSTIÇA

Então disse Deus a Noé: O fim de toda a carne é vindo perante a minha face; porque a terra está cheia de violência; e eis que os desfarei com a terra.
Gênesis 6:13

Ainda que o Gênesis não dê muitos detalhes da pregação de Noé, de acordo com a tradição Apostólica, ele trabalhou como um “pregoeiro da justiça”, que tentou persuadir a sua geração a se arrepender dos seus caminhos pecaminosos.

E não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, a oitava pessoa, o pregoeiro da justiça, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios;
2 Pedro 2:5

Clemente disse que:

Noé pregou o arrependimento, e tanto quantos o ouviram foram salvos. 1º Clemente 7.

Pedro disse que:

…a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água. 1 Pedro 3:20.

A tradição Apostólica sobre a pregação de Noé, também aparece na tradição judaica:

Por um total de cento e vinte anos Noé plantou cedros e os cortou (para a construção da arca). Quando eles perguntaram a ele, “Por que você está fazendo isso?”, ele respondeu, “O Mestre do universo me avisou que Ele trará um dilúvio ao mundo”.

Eles responderam, “Se um dilúvio vier, ele virá somente sobre você e sobre a casa de seu pai”. Gênesis Rabbah 30:7

Noé levou cinquenta e dois anos para fazer a arca, para que eles se arrependessem dos seus caminhos. Mas eles não se arrependeram. Pirkei DeRabbi Eliezer 23

Jesus ensinou que “como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem“. Lucas 17:26. Isso significa que a geração dos últimos dias irá ignorar sinais e pregações, e se recusará a se arrepender de seus maus caminhos.

E estarão distraídos com os negócios da vida cotidiana:

Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca,

E não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem.
Mateus 24:38,39

ENTRA TU E TEUS FILHOS

e entrarás na arca, tu e os teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos contigo.
Gênesis 6:18

Este verso nos avisa que nenhum homem é merecedor, por si mesmo, do direito a “entrar na arca da salvação“, mas somente “os filhos de Noé” o são. E quem são os “filhos de Noé”? Estes são os justos, aqueles que andam nas mesmas obras de Noé, na mesma fé.

Filhos, na Bíblia, é algo mais do que a simples genética ou descendência genealógica. Filhos, biblicamente falando, são aqueles que seguem o legado deixado por um patriarca, seja para o bem ou para o mal.

Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai.
João 8:44

Aqueles que andam em justiça e em verdade, em obediência, são filhos de Noé, herdeiros do direito de entrar na Arca da Salvação, isto é, são herdeiros de Deus, coerdeiros com Cristo, marcados para a salvação do último dia. Não entrarão em condenação.

O mundo antigo foi condenado, pois as suas obras não eram condizentes com as obras dos filhos de Deus. Mas todo aquele que tem fé, e obedece, é feito ainda mais do que filhos de Noé, pois é feito filho de Deus.

Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; João 1:12

O DILÚVIO E AS ÁGUAS DO BATISMO

O Senhor escolheu lavar a terra do sangue que era continuamente derramado pela violência e corrupção de toda a sorte. Ele poderia ter iniciado um novo universo, mas escolheu lavar, e redimir, e reparar. Deus trabalha arduamente pela redenção do homem. Em Hebraico, chamamos isso de תקון עולם Tikkun Olam.

O Eterno redimiu a Sua criação na terra fazendo-a passar por meio das águas do dilúvio. Essas águas já simbolizavam para o processo de purificação, para o arrependimento dos pecados por meio das águas do batismo.

…como foi dito, “a terra estava corrompida”… Deus desejou purificar o mundo. Ele assim, escolheu a água, que tem a habilidade de fazer isto, como está escrito [em Ezequiel 36:25] “Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados”. Nesse sentido, as águas do dilúvio foram similar a uma purificação espiritual. (Torah Or, Noach 8c)

O batismo simboliza a morte e o renascimento, pois assim como no princípio a criação emergiu das águas, assim uma pessoa, quando emerge das águas do batismo, se torna uma nova criatura, modificada, e com uma nova identidade espiritual.

Semelhantemente, durante a grande inundação, toda a terra voltou ao seu estado primordial, quando diz, “a terra estava sem forma e vazia, e o espírito de Deus pairava sobre a face das águas“. Os sobreviventes na arca, são a representação de uma nova criação, como aqueles que são nascidos de novo, da água e do espírito.

Os Apóstolos tiveram uma interpretação similar para a história do dilúvio. Assim como as águas do batismo simbolizam o novo nascimento, aqueles que estavam na arca de Noé foram salvos pela água, e continuaram para renovar a vida na terra.

Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo;
1 Pedro 3:21

E como apenas poucos sobreviveram ao dilúvio nos dias de Noé, apenas poucos dentre os Israelitas aceitaram o chamado dos Apóstolos para se arrependerem e serem batizados em nome de Jesus. A imersão em água simboliza o arrependimento, por meio do perdão que há na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Foi por isso que Pedro disse:

E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados…
Atos 2:38

Pedro enxergava a história de Noé como uma figura do reino vindouro. A terra vai passar por um tempo de dificuldades, mas o impio ira perecer e os inimigos de Deus serão derrotados. Aqueles que estão dentro da salvação de Jesus (simbolizado pela arca), embora serão poucos, vão passar pelas águas do julgamento e entrarão no reino dos céus.

A ARCA DE NOÉ

Faze para ti uma arca da madeira de gofer; farás compartimentos na arca e a betumarás por dentro e por fora com betume.
Gênesis 6:14

a arca de noé, estudo bíblico

A história de Noé na Arca.

O Senhor deu a Noé instruções para construir a arca. Ele deu dimensões precisas, e disse o tipo de material que deveria ser usado para preparar e terminar a arca. Também descreveu onde colocar a entrada, e o número de andares.

As instruções para a arca, em alguns pontos, parece antecipar as instruções para a construção do Tabernáculo, que Moisés recebeu no Sinai. A palavra arca, em Hebraico é תֵּבָהtevah“, a mesma usada para o cesto em que Moisés foi colocado, ao ser posto no rio Nilo.

Não podendo, porém, mais escondê-lo, tomou uma arca de juncos, e a revestiu com barro e betume; e, pondo nela o menino, a pôs nos juncos à margem do rio.
Êxodo 2:3

Além disso, a forma da arca era quadrática, o que fala de firmeza e estabilidade, como uma mesa apoiada em seus quatro “pés”, com um prédio apoiado em seus quatro lados. A salvação em Cristo é igualmente uma plataforma estável e firme.

A LUZ NA ARCA

Farás na arca uma janela, e de um côvado a acabarás em cima; e a porta da arca porás ao seu lado; Gênesis 6:16

O Senhor mandou que Noé fizesse uma “janela” para a arca. Ocorre que a palavra que foi traduzida como “janela”, em Hebraico é צֹהַרtsohar“, que significa “meio dia”, ou “luz do meio dia“. Essa palavra implica algo luminoso, uma fonte de luz resplandecente.

Para muitos isso vai significar a luz do dia, entrando por uma janela, mas como sabemos, as palavras bíblicas trazem conteúdos mais profundos. Essa fonte de luz pode ser comparada com a menorá do Tabernáculo, uma iluminação espiritual, a revelação da luz do Messias Jesus.

É uma grande revelação na história de Noé.

ANIMAIS PUROS E IMPUROS

De todos os animais limpos tomarás para ti sete e sete, o macho e sua fêmea; mas dos animais que não são limpos, dois, o macho e sua fêmea.
Gênesis 7:2

Deus disse a Noé que tomasse um par de animais impuros, e sete pares de animais limpos. Aparentemente, Noé sabia a diferença entre eles. Este verso indica que já existia a distinção entre animais cerimonialmente puros e os animais cerimonialmente impuros, antes mesmo da Lei de Moisés, e do código de pureza dos Levitas.

E por que foi dada a instrução para tomar sete pares de animais puros? Muitos afirmam que Noé e sua família não comiam animais impuros. Então eles só precisariam de um par apenas. E como eles comiam os animais puros, precisavam ter mais de um par deles, para evitar a extinção de espécies.

Essa explicação, mesmo que pareça fazer sentido, não é totalmente correta!

Isso porque Deus só introduziu a proibição Levítica de comer animais impuros, após a construção do Tabernáculo. E a proibição para não comer os animais cerimonialmente não limpos, foi dada no contexto do Tabernáculo, para os Levitas e Sacerdotes.

Essa proibição só se aplicava ao povo de Israel, igualmente no contexto sacrificial, e não no contexto diário, como muitos erroneamente interpretam. Veja que foi o próprio Deus, que explicitamente de ordem a Noé dizendo:

Tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho dado como a erva verde Gênesis 9:3

A única proibição foi para não comer o sangue dos animais:

A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis.
Gênesis 9:4

Não era sobre uma lei alimentar que fazia divisão entre animais que pode ou que não se pode comer, que Deus tinha instruído a Noé e seus filhos, mas sobre os animais que eram apropriados ou não para serem oferecidos em sacrifícios ao Eterno.

A Lei Levítica alimentar segue os mesmos princípios.

DOIS A DOIS OS ANIMAIS ENTRAM NA ARCA

Dos animais limpos e dos animais que não são limpos, e das aves, e de todo o réptil sobre a terra,
Entraram de dois em dois para junto de Noé na arca, macho e fêmea, como Deus ordenara a Noé.
Gênesis 7:8,9

Iniciava-se a procissão da salvação, a grande comitiva a caminho da salvação, de dois em dois. Em Hebraico dois a dois é שְׁנַיִם שְׁנַיִם “shenáim shenáim“. Essas são as mesmas palavras que o nosso Mestre Jesus usou quando enviou os Seus discípulos, na grande comissão para anunciar o Evangelho – dois a dois.

E depois disto designou o Senhor ainda outros setenta, e mandou-os adiante da sua face, de dois em dois [ שְׁנַיִם שְׁנַיִם “shenáim shenáim], a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir.
Lucas 10:1

Novamente a história de Noé serviu de alegoria para a história de Jesus.

A PORTA SE FECHOU

E os que entraram eram macho e fêmea de toda a carne, como Deus lhe tinha ordenado; e o Senhor o fechou dentro. Gênesis 7:16

Deus ordenou a Noé que colocasse a porta ao lado da arca. A porta simboliza o arrependimento. Jesus também comparou o arrependimento a uma porta. Ele ensinou aos Seus discípulos a escapar do julgamento final, por meio do arrependimento, passando pela porta que é estreita, para entrar na salvação divina.

Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão.

Quando o pai de família se levantar e cerrar a porta, e começardes, de fora, a bater à porta, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos; e, respondendo ele, vos disser: Não sei de onde vós sois;
Lucas 13:24,25

Durante as décadas em que Noé construiu a arca, e pregou o arrependimento, todos poderiam ter entrado na arca. As pessoas tiveram tempo pra isso, para entrar pela porta da salvação. Mas eles não ouviram os avisos de Noé.

Eles não procuraram entrar pela porta, porque estavam ocupados com as coisas da vida, procurando o que comer e o que beber, casando e dando-se em casamento, até que veio o dilúvio e levou a todos. Deus fechou a porta da arca.

Isso quer dizer que há um tempo limite para o arrependimento. O Eterno não deixará a porta do arrependimento aberta infinitamente. Chegará o dia em que essa porta será fechada, e não será mais possível entrar no reino de Deus.

É aí que o julgamento começará!

QUARENTA DIAS SOBRE A TERRA

farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites
Gênesis 7:4

Os quarenta dias de chuva carregam, em si, a simbologia do dissolvimento espiritual, onde todos os sentidos e desejos carnais devem ser apagados. Esses quarenta dias e quarenta noites simbolizam a anulação total do “Eu”, do ego, que passa pela morte e renascimento pelas águas.

É a simbologia da recriação do mundo, uma nova criação. Por isso Moisés e Jesus jejuaram por quarenta dias e quarenta noites, pois ambos eram precursores de uma nova criação.

e Moisés esteve no monte quarenta dias e quarenta noites.
Êxodo 24:18

E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome;
Mateus 4:2

LEMBROU-SE DEUS DE NOÉ

E lembrou-se Deus de Noé, e de todos os seres viventes, e de todo o gado que estavam com ele na arca; Gênesis 8:1

O Gênesis diz que Deus se lembrou de Noé e dos animais na arca. Isto não quer dizer que o Eterno tenha se esquecido deles, e que tenha lembrado em um sentido de semelhança com a mente humana, que se esquece naturalmente de um objeto, e não lembra depois onde o deixou.

Não é isso. Na Bíblia, a palavra lembrar é o termo Hebraico זָכַרzachar“, que é uma lembrança para agir em obrigação aos seus deveres, em favor de alguém. O texto nesta pare diz, וַיִּזְכֹּר אֱלֹהִים אֶת־נֹחַvayyizcor elohim et noach“que poderia ser resumidamente traduzido como, “e Deus agiu conforme a Sua obrigação, em favor de Noé e dos animais na arca” .

Isso porque o Eterno se compromete e se auto-obriga pela Sua palavra empenhada. O que Ele promete, cumpre!

Então me lembrarei da minha aliança, que está entre mim e vós
Gênesis 9:15

De maneira similar, Deus nos ordenou a lembrarmos dos Seus mandamentos, por meio do cumprimento das Suas ordenanças:

Para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sejais a vosso Deus. Números 15:40

O ARARATE NA HISTÓRIA DE NOÉ

E a arca repousou no sétimo mês, no dia dezessete do mês, sobre os montes de Ararate.
Gênesis 8:4

A arca de Noé repousou em algum lugar das montanhas do Ararate, que ficam na atual Turquia. Isso não se refere a um ponto específico, mas a uma cadeia de montanhas do reino da proto-Armênia. A tradição identifica o local em que arca repousou, como sendo o monte Masis, o ponto mais alto nas montanhas da Armênia.

ENVIOU UMA POMBA

E a pomba voltou a ele à tarde; e eis, arrancada, uma folha de oliveira no seu bico; e conheceu Noé que as águas tinham minguado de sobre a terra.
Gênesis 8:11

A pomba enviada por Noé representa o Espírito Santo. Quando Jesus foi batizado no Jordão, o Espírito de Deus veio sobre Ele, como uma pomba. Jesus foi o único justo em que a pomba/Espírito encontrou repouso.

A MALDIÇÃO DE CÃO

E viu Cão, o pai de Canaã, a nudez do seu pai, e fê-lo saber a ambos seus irmãos no lado de fora.
Gênesis 9:22

Cão viu a nudez de seu pai, e foi amaldiçoado. Há vários casos, na Bíblia, de personagens que foram igualmente amaldiçoados, mas que as tiveram revertidas e abolidas, por causa do arrependimento de suas más ações.

O caso da maldição de Cão é mais simbólico e profético do que qualquer outra coisa. Se trata de um tipo de revelação dada a Noé (ele falava com Deus e tinha um alto senso de discernimento espiritual). Os descendentes de Cão, os Cananeus, como seu patriarca, não tinham o senso moral adequado com o padrão moral exigido por Deus.

Veja que no decorrer desta passagem, Sem e Jafé, de costas para não ver a nudez de seu pai, cobrem Noé com uma capa. Cão não fez isso porque herdou do mundo pecaminoso, antes do dilúvio, uma consciência corrompida.

Veja que um dos principais motivos de Deus ter expulsado os Cananeus da terra, foi o padrão moral baixíssimo que eles praticavam, descobrindo a nudez de seus parentes próximos, inclusive dos animais, isto é, tendo relações sexuais abomináveis.

Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da sua carne, para descobrir a sua nudez. Eu sou o Senhor. Levítico 18:6

Com nenhuma destas coisas vos contamineis; porque com todas estas coisas se contaminaram as nações que eu expulso de diante de vós.

Por isso a terra está contaminada; e eu visito a sua iniqüidade, e a terra vomita os seus moradores.
Levítico 18:24,25

A nudez não é algo que deve ser banalizada, escrachada, com corpos à mostra, roupas transparentes ou decotadas, coladas, em um exagero de sensualidade, pois estas coisas os Cananeus praticavam e foram expulsos por Deus e amaldiçoados.

E os que praticam a nudez, ou a exibição de seus corpos de forma sensual, provocando o pecado do desejo, e dos olhos, são filhos de Cão, são a semente dos Cananeus, e serão julgados no último dia.

Os que são de Deus cobrem a nudez, guardam a sua sensualidade para o casamento, e suas relações sexuais de restringem a seus maridos e esposas, em um local adequado para isso.

Não queiram ser filhos de Cão, não queiram ser como os Cananeus! Não carreguem a mesma maldição!

AS SETENTA NAÇÕES

Estas, pois, são as gerações dos filhos de Noé: Sem, Cão e Jafé; e nasceram-lhes filhos depois do dilúvio. Gênesis 10:1

O Gênesis revela a árvore genealógica de toda humanidade. Aqui temos alguns exemplos:

  • Javã – Grécia;
  • Quitim – Itália;
  • Cuxe – Etiópia;
  • Mizraim – Egito;
  • Assur – Assíria;
  • Sidom – Fenícia/Líbano;
  • Sem – Semitas;
  • Éber – Hebreus;
  • Arã – Arameus.

TABELA COM AS SETENTA NAÇÕES DESCENDENTES DE NOÉ

tabela contendo as setenta nações descendentes de noé

Bibliografia: Dephs of the Torah – Bereshit – booh 1 – FFOZ; Samuel, Michael Leo. Rediscovering Philo of Alexandria:: A First Century Torah Commentator – Volume I: Genesis.

Sobre o autor | Website

Cursou hebraico bíblico, geografia bíblica, Novo Testamento, e estudos do Apocalipse; é especialista em estudos da Bíblia, certificado pelo Israel Institute of Biblical Studies. Autor do livro Gênesis, o Livro dos Patriarcas.

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4 Comentários

  1. marcos goes disse:

    estudo maravilhoso e tremendo Deus seja louvado na sua vida meu irmão!!!!!

  2. Rafael disse:

    com esse estudo abriu a minha mente sobre o acontecimento do dilúvio e sobre as palavras simbólicas também sobre as gerações.

  3. Humberto disse:

    Amém
    Estudo muito rico, Deus continue te abençoandp