Passagem do Filho Pródigo na Bíblia | O que Significa?

A passagem do Filho Pródigo na Bíblia, está registrada no Evangelho de Lucas 15:11-32. Jesus tinha sido acusado pelos Fariseus de receber Publicanos (como Zaqueu), e pecadores, para comer com eles.

O Mestre imediatamente tratou de ensinar aos “doutores da Lei“, por meio de parábolas, que a Sua missão era resgatar e salvar os “filhos pródigos” da casa de Israel.

É nesse contexto que se dá a passagem do Filho Pródigo, a história de dois irmãos (um deles ficou conhecido como “o irmão mais velho”).

E o mais novo pede a sua parte na herança do seu pai, e parte para uma vida de devassidão em uma terra distante.

E disse: Um certo homem tinha dois filhos;

E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda.
Lucas 15:11,12

Esse personagem vai acabar passando fome, tomando um “choque de realidade”, resolve voltar para a casa de seu pai. O irmão mais velho demonstra insatisfação com o excelente tratamento com que o pai recebe o filho infiel.

Após esse pequeno resumo da parábola do filho pródigo, gostaria de passar a fazer uma analise dessa magnífica história, tendo como base o texto da Peshitta Aramaica, na versão que foi reconstruída para o Hebraico.

Vamos usar também a respeitada reconstrução do Novo Testamento em Hebraico, feita por Franz Delitzsch.

Para uma terra distante

E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
Lucas 15:13

lucas 15:13 em hebraico, a passagem do filho pródigo

Franz Delitzsch revela na passagem do filho pródigo, um glutão e beberrão.

O texto de Franz Delitzsch, em Hebraico descreve o filho pródigo com as seguintes palavras:

  • וַיְהִי זוֹלֵל – “vayhi zolel”, “E foi um glutão” – ou seja, ele praticava a glutonaria;
  • וסֹבֵא – “vessovêh”, “E beberrão” – Essa é a mesma raiz da palavra סָבָא “beber pesadamente ou se embriagar”.

A Peshitta, em Hebraico, descreve a forma como o filho pródigo vivia, empregando a palavra בְּהוֹלְלוּת “beholelut”, que significa viver em libertinagem, devassidão, desregramento, licenciosidade, orgia.

É interessante que no verso 15:15, o texto descreve que ele terminou cuidando de porcos.

Em Israel, entre os Judeus não se criava porcos, pois a Lei de Deus não permite que Judeus se alimentem da carne desses animais (os gentios podem, conforme o concílio de Jerusalém em Atos 15).

Provavelmente Jesus estava se referindo às cidades da Decápolis, onde habitava o endemoninhado Gadareno.

Essas eram cidades gentílicas, e conforme mostramos no estudo sobre aquele homem que foi liberto pelo Mestre das forças do mal, havia nelas templos dedicados os deuses pagãos dos Gregos.

E o culto a essas divindades era regado a muito vinho, muita bebida alcoólica, e a oferenda era um porco, que depois de sacrificado era servido aos homens e mulheres que participavam do culto.

A certa altura dessa oferenda, havia orgias e homossexualismo de forma descarada, acompanhada de glutonarias e embriaguez.

A passagem do filho pródigo

Jesus começa a contar a passagem do filho pródigo, baseando-a no livro dos Provérbios e dos Salmos. O próprio termo usado em Hebraico para a palavra “parábola“, é מָשָׁלmashal” que significa “exemplo“.

O Mestre estava usando os textos bíblicos na forma de exemplos práticos, para um melhor entendimento dos Seus ouvintes.

A primeira ligação com Provérbios está em Lucas 15:14:

E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades.
Lucas 15:14

Aqui o Mestre parece repetir o tema central de Provérbios 29:3:

O homem que ama a sabedoria alegra a seu pai, mas o companheiro de prostitutas desperdiça os bens.
Provérbios 29:3

Uniu-se aos pecadores

Todos os manuscritos são unânimes em relatar que na passagem do filho pródigo, quando ele começa a passar necessidade, após ter desperdiçado a sua herança, ele busca a ajuda de um morador daquela cidade.

E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos.
Lucas 15:15

Franz Delitzsch usa o verbo וַיִּדְבַּק “vaydbaq”, “e uniu-se [a um dos filhos]”. A mesma palavra, o mesmo verbo foi usado no Gênesis, na fala de Adão, quando se unia à sua esposa, Eva.

עַל־כֵּן֙ יַֽעֲזָב־אִ֔ישׁ אֶת־אָבִ֖יו וְאֶת־אִמּ֑וֹ וְדָבַ֣ק בְּאִשְׁתּ֔וֹ וְהָי֖וּ לְבָשָׂ֥ר אֶחָֽד׃

“al ken yaazav ish et aviv veet imô vedavaq beishtô vehayú levassar ehad”

Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.
Gênesis 2:24

Imagine o tipo de “união” promíscua e abominável, este filho perdido não se submeteu para tentar amenizar o seu estado caótico, tanto físico como moral.

Logo em seguida os termos usados, em Hebraico, são מִבְּנֵי הַמְּדִינָה “mibeney ha-medinah”, que podem ser traduzidos como “um dos filhos da cidade“.

Entretanto, a palavra מְּדִינָה “medinah”, é muito formal, usada até mesmo para se falar do Estado, no campo político, como por exemplo quando se fala do estabelecimento do Estado de Israel em 1948, chamado de קום הַמְּדִינָה “qom ha-medinah”.

Provavelmente o filho infiel procurou um dos oficiais da cidade (os donos das terras), que deve ter sido um dos seus companheiros de farra, pois Lucas 15:14 narra que havia uma grande fome naquela terra.

Ele procurou o socorro entre os pecadores, esqueceu-se dos ensinamentos de seu pai, que conforme escreveu Davi, o nosso socorro vem do alto. Por não dar crédito às palavras do Eterno, terminou cuidando de porcos.

Pensou que receberia algum tipo de “ajuda/recompensa” por ter bancado muitas festas pagãs, mas não é assim que as coisas funcionam no mundo real.

E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada.
Lucas 15:16

Ele terminou maltrapilho, e na extrema pobreza. Jesus de forma poética e magnífica, novamente dava um exemplo prático para o texto de Provérbios, que diz:

Porque o beberrão e o comilão acabarão na pobreza; e a sonolência os faz vestir-se de trapos.
Provérbios 23:21

E ainda os Salmos afirmam:

Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. (Selá.)
Salmos 32:4

A volta do filho pródigo

A passagem do filho pródigo é contada em 22 versos (15:11 a 15:32). Isso faz com que o centro do texto fique no versículo 21, e é justamente ali que encontramos o tema central desta parábola.

E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho.
Lucas 15:21

Jesus estava a ensinar sobre o poder do arrependimento e o superpoder do perdão. O Mestre mais uma vez contava um exemplo prático sobre o ato de voltar ao eixo da vida, quando reconhecemos os nossos erros.

Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado. (Selá.)
Salmos 32:5

O filho pródigo “fala”, que “não sou digno de ser chamado seu filho”. Em Hebraico, a Peshitta usa os termos וְאֵינֶנִּי רָאוּי עוֹד לְהִקָּרֵא בִּנְךָ “veeinneni raui ôd lehiqarê binchah”, “e não há mais em mim mérito para ser chamado seu filho”.

Essa fala demonstra que os Judeus do primeiro século (e ainda hoje), acreditavam em mérito próprio para serem perdoados. Porém, no verso anterior, o pai já o tinha visto e já tinha se compadecido dele.

O perdão do pai não veio por mérito, mas por graça e amor! É por isso que o filho, mesmo pedindo para ser um servo, não deixou de ser filho, e o pai imediatamente o recebeu de braços abertos!

Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés;

E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos;
Lucas 15:22,23

  • A roupa simboliza as obras, há mudança de roupas velhas (as más obras), para roupas novas (novo nascimento).
  • O anel simboliza a aliança, o pacto que o Eterno fez com Abraão, e agora era a renovação dessa aliança por meio da fé em Jesus Cristo.
  • As alparcas (sandálias), simbolizam um novo caminhar, dado pelo pai. O filho pródigo havia andado fora do caminho, ignorando os mandamentos do Eterno, vivendo uma vida dissoluta.

Mas a partir de então, ele deveria seguir o verdadeiro caminho a verdade e a vida.

Veja que o pai mandar trazer e matar o bezerro cevado, que foi nutrido e preparado para ser morto, e usado em uma festa. Aqui é a simbologia da missão de Jesus.

Houve arrependimento, o pacto foi renovado, porém não sem derramamento de sangue de um inocente – que é a figura da obra redentora do Mestre.

A passagem do filho pródigo traz um grande ensinamento, que é através dessa morte, e por esse sangue que podemos festejar a nossa vitória sobre o pecado e sobre o juízo.

Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.
Romanos 8:1

Sobre o autor | Website

Cursou hebraico bíblico, geografia bíblica, Novo Testamento, e estudos do Apocalipse; é especialista em estudos da Bíblia, certificado pelo Israel Institute of Biblical Studies. Autor do livro Gênesis, o Livro dos Patriarcas.

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6 Comentários

  1. JOARES AMORIM disse:

    A PAZ DO SENHOR JESUS CRISTO
    COMO É MARAVILHOSO ESTUDAR ALGO QUE TRÁS DO HEBRAICO OU GREGO PARA A CLARA COMPREENSÃO DO TEXTO.
    OBRIGADO POR COMPARTILHAR COM FAMINTOS PELA PALAVRA.
    ABRAÇO EM CRISTO MEU AMADO

  2. marcos goes disse:

    muito obrigado Israel por esse estudo maravilhoso, e com tanta profundidade que senhor venha abençoar sua vida cada dia mais!!

  3. Daniel Valente disse:

    Muito proveitoso, bem explicado…amém!

  4. Rosa Vicente disse:

    Gostaria de saber pq o pai ficou de longe a espera do filho?

  5. Nadia Maria Souza da Cruz disse:

    Muito boa explicação sobre o filho prodigo , uma dúvida uns dizem que o anel foi colocado na mao e outros que o pai colocou no dedo , no hebraico , no original como esta escrito ??

  6. Jonas Izidoro disse:

    Deus continue te abençoando sempre, lindo estudo, obrigado pela contribuição do Reino,
    Abraços e orações