A Queda do Homem e Suas Consequências | Gênesis 3 Estudo

A queda do homem e suas consequências estão registradas no livro do Gênesis 3:1-19. Entre as consequências da queda do homem, podemos listar logo abaixo, as principais.

Para Adão:

  • Passou a ser mortal, impedido de comer da árvore da vida;
  • Foi expulso do jardim do Éden – o paraíso;
  • Passou a ter que trabalhar muito para poder se alimentar;

Para Eva:

Para a serpente:

Essa história começa com a introdução da serpente na narrativa, descrevendo que era a mais astuta das alimárias do campo.

Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito…
Gênesis 3:1

É interessante quando analisamos esta passagem sobre a queda do homem, usando as palavras no original, em Hebraico, pois usando dos quatro níveis de interpretação, “PaRDeS”, logo surgem significados das alegorias presentes nestes textos.

A serpente

Por exemplo, no verso citado acima, vemos que a palavra “serpente”, em Hebraico, é נַחַשׁnachash” (lê-se narrásh), que também significa “encantamento/sedução”. A serpente tentaria “seduzir” Eva a desobedecer o mandamento divino.

A serpente era “mais astuta…”. A palavra “astuta”, em Hebraico, é o termo עָרוּם “arum”, que também significa “sutil/nu (sem roupa, descoberto)”.

É neste estado, de nudez, dado pela palavra “arum“, no plural, עֵירֻמִּם “erumim”, que Adão e Eva vão perceber a si mesmos, depois de desobedecerem ao Eterno. O texto faz uma ironia com essa palavra, que pode significar “astutos/nus“.

Essas palavras tem significados que vão interagir com toda a história da queda do homem e suas consequências, e que futuramente simbolizarão a obra da redenção na cruz.

Campo do mundo

Outra palavra que me chama a atenção, é o termo “campo” (mais astuta que todas as alimárias do campo), que em Hebraico é שָּׂדֶהsadê“, e que traz um sentido alegórico de algo, “terráqueo”, comum, “mundano”, em contraste com o “campo espiritual”.

O “campo”, no Gênesis, representa o “mundo”, e tudo que há no mundo, no sentido mais passageiro e perecível que possa existir. É por isso que Caim escolheu ser agricultor, pois ele e Esaú eram “homens do campo”, em contraste com a espiritualidade de Abel e de Jacó.

…e Caim foi lavrador da terra.
Gênesis 4:2

…e Esaú foi homem perito na caça, homem do campo
Gênesis 25:27

O próprio assassinato de Abel se deu quando ele e Caim estavam no “campo”, isto é no “mundo“, no domínio de Caim, que o convidou para ir para lá. Mas isso veremos em detalhes em um estudo sobre esse tema.

estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.
Gênesis 4:8

Mesmo Jesus, pareceu revisitar este assunto, quando contava sua parábola do joio e do trigo:

O campo é o mundo…
Mateus 13:38

Desta árvore

Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.
Gênesis 3:3

Há uma pequena diferença entre o texto de Gênesis 3:3, que está registrado na Torá Judaica (os cinco livros de Moisés, também chamados de Pentateuco), e o texto registrado na Torá de versão Samaritana (o Pentateuco dos Israelitas Samaritanos).

Longe de querer entrar na disputa ancestral e milenar, de quem está mais correto (ou Judeus ou Samaritanos), apenas trago à baila esta pequena diferença, que se constitui em uma única palavra, para ilustrar o cenário da queda do homem.

Aliás, é comum que textos que foram tantas vezes copiados à mão, tenham essas pequenas diferenças, pois o copista pode acidentalmente esquecer alguma palavra, ou mesmo achar que ela seja insignificante para a história.

Ocorre que na versão Samaritana do Gênesis, há a palavra הַזֶה “haze”, “esta”, em ligação com a palavra הָעֵץ “haetz”, “a árvore”.

Isso muda a resposta de Eva para a serpente de “Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim…”, para “Mas do fruto desta árvore que está no meio do jardim…”, indicando que Eva estava próxima à árvore do conhecimento do bem e do mal.

Indica que ela já estava circulando, andando nas redondezas, na área bem perto da árvore do fruto proibido.

gênesis 3:3 em hebraico

Atraída pelos olhos

Essa proximidade da mulher, em relação a árvore do conhecimento, é sintomática, uma vez que o jardim do Éden possuía uma área gigantesca, que se iniciava desde o rio Nilo (segundo Flávio Josefo, Antiguidades 1:3), se estendendo aos rios da Mesopotâmia, o Tigre e o Eufrates.

A quantidade de árvores frutíferas era enorme, levando-se em consideração toda a área potencial do jardim. Porém Eva se posiciona no início do capítulo de Gênesis 3, logo em frente à única árvore que ela deveria evitar comer.

O verso de Gênesis 3:6 revela os motivos que atraíram a primeira mulher, para perto da árvore do fruto proibido.

  • Boa para se comer (não era venenosa) e agradável aos olhos (aparência);
  • Desejável para dar conhecimento (despertava o desejo).

Para Eva, árvore do conhecimento do bem e do mal, em princípio, era venenosa. Foi essa a abertura que a serpente usou para enganá-la.

Acréscimo à Palavra

Veja que quando a serpente (observe que o termo נַחַשׁnachash” é masculino, portanto, poderia ser traduzido, também como “o sedutor“), inicia o seu diálogo com a mãe de todos dos homens, checando como ela recebeu de Adão o mandamento divino.

É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?
Gênesis 3:1

A resposta de Eva mostra que algo tinha sido acrescentado às palavras do Eterno, quando instruiu Adão a não comer do fruto proibido.

E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos,

Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.
Gênesis 3:2,3

Repare que ela acrescenta a parte “nem nele tocareis [para que não morrais]”, dando a impressão de que o fruto era venenoso, e mataria se fosse tocado.

A conversa com a serpente e a proximidade do fruto, a mostrou que não era essa a realidade. Duas ou três lições eu vejo nesse trecho.

Primeiro, Deus nunca falou sobre “não tocar” no fruto. A ordem do Eterno a Adão foi:

E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente,

Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.
Gênesis 2:16,17

Segundo, Eva não ouviu aquele mandamento diretamente de Deus, portanto, Adão foi o responsável por retransmitir a ordem divina. E ele o fez, acrescentando uma lei de cerca, para “proteger” a mulher de pecar.

Mas foi essa pseudo “proteção” que deu margem para a serpente sair bem sucedida no seu intuito.

Por isso mesmo Deus nos ordena no tocante à sua palavra:

Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás.
Deuteronômio 12:32

Agradável aos olhos

Eva viu que o fruto era agradável aos olhos. Esse trecho me faz lembrar outra passagem, em que Ló, sobrinho de Abraão, levanta seus olhos em direção a Sodoma e Gomorra, pois seus campos eram verdes, como o “jardim do Senhor”.

E levantou Ló os seus olhos, e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada, antes do Senhor ter destruído Sodoma e Gomorra, e era como o jardim do Senhor
Gênesis 13:10

Eva, assim como Ló, se deixou levar pela aparência. Porém os filhos da luz não são guiados pelas aparências, mas por fé, que é crer na palavra do Eterno, ainda que não se compreenda os motivos, ainda que não se entenda bem o mandamento.

Mas o justo viverá pela fé!

Fruto desejável

Eva foi a primeira a ter que lidar com seus desejos. Assim como o fruto proibido, há muitas coisas e situações que despertam o desejo em nossas mentes.

Toda a beleza deste mundo, que desperta desejo nas pessoas, é poderosa, porém passageira. O homem tem que aprender a lidar, e a negar os seus próprios desejos e cobiças.

Essa é a essência do Evangelho, que é a negação de si mesmo, a renuncia de suas próprias vontades, para cumprir a vontade do Eterno.

E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo
Marcos 8:34

A queda do homem e suas consequências

…tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.
Gênesis 3:6

Adão e Eva sucumbem ao argumento da serpente, e desobedecem a Deus; eles comem do fruto da árvore que receberam ordem para não comer. Imediatamente após comerem, os efeitos da queda do homem começam a aparecer.

E também as consequências viriam em seguida. Primeiro seus olhos são “abertos”, e eles percebem que estão sem cobertura, sem roupas, e nus.

Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.
Gênesis 3:7

O casal caído, tenta desesperadamente fazer roupas de folhas de figueira. A cobertura da nudez, alude para justificação, que porém o homem e a mulher buscaram por meio de material que vem diretamente da terra, do solo.

Isto aponta para a tentativa de auto-justificação, através de seu próprio esforço.

O solo, a terra, representa o mundo mais baixo, comum, que difere do mundo elevado, espiritual, divino, o reino do céu. O homem caído não possuía a capacidade de auto-justificar-se.

Esse mesmo erro se repetiria com Caim, o agricultor, quando trouxe uma oferta do “fruto da terra”, produto do muito esforço de suas próprias mãos. O perdão dependeria de um preço muito maior, que o homem não poderia pagar.

A cobertura, tanto física (roupas), quanto a espiritual, seria um ato que provém de Deus. A salvação não vem de nós, é dom de Deus.

Entre as árvores

E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.
Gênesis 3:8

Adão e Eva esconderam-se da presença do Senhor, mas leia-se aqui “da sentença, da consequência da queda do homem”. Eles sabiam que haveria consequências. E escolheram se esconder junto das árvores.

Entre as árvores – árvore é, no original, a palavra hebraica עֵץetz“, que também significa madeira, e que por ser masculina em Hebraico, literalmente seria traduzida como “madeiro“.

Associado com a sequência de acontecimentos, as sentenças de punição, e a morte de um animal (mesmo que implícito no texto), e que denota o derramamento de sangue de um inocente, para que a sua pele fosse usada como roupa para o casal caído, alude para o tema da crucificação de Jesus.

É uma alegoria semelhante ao que aconteceu com Zaqueu o Publicano, que como Adão e Eva que procuraram abrigo no madeiro (entre as árvores). Zaqueu subiu no madeiro (no Sicômoro), uma alusão à elevação espiritual que vem da crucificação de Cristo.

Sobre o autor | Website

Cursou hebraico bíblico, geografia bíblica, Novo Testamento, e estudos do Apocalipse; é especialista em estudos da Bíblia, certificado pelo Israel Institute of Biblical Studies. Autor do livro Gênesis, o Livro dos Patriarcas.

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2 Comentários

  1. geovane de souza assunacao disse:

    parabens pelo estudo

  2. Moisés Alexandre disse:

    Paz do Senhor Jesus. Meu irmão muito obrigado pelo belo estudo estou aprendendo muito com o senhor.