A Transfiguração de Jesus | Qual Significado da Transfiguração do Senhor?
Qual é o significado da transfiguração do Senhor? A transfiguração de Jesus está registrada nos Evangelhos de Mateus 17:1-13, Lucas 9:28-36, e Marcos 9:2-13.
Jesus estava na região de Cesareia de Felipe, uma cidade no extremo norte de Israel, quando tomou a Pedro, Tiago e João e subiu com eles a um monte para orar.
A tradição Cristã coloca o monte Tabor como o possível local onde ocorreu a transfiguração de Jesus. Entretanto, como veremos mais abaixo neste estudo bíblico, o local mais provável, seguindo a geografia bíblica, seria o monte Hermon.
Jesus estava agindo nos passos de Moisés, que também, após subir ao monte Sinai, e ter falado com Deus, o seu rosto passou a emitir um brilho milagroso.
O evento do brilho do rosto de Moisés era uma tipologia do que aconteceria com o Mestre, quando o seu rosto se transfigurou e também brilhou em glória.
É misterioso este acontecimento, e para que possamos entender este mistério, proponho que venhamos a estudar o seguinte esboço sobre a transfiguração de Jesus, nas palavras que estão nos textos dos Evangelhos:
- Moisés e Elias;
- A nuvem na transfiguração de Jesus;
- Façamos três tendas;
- Depois de seis dias;
- O local da transfiguração;
- A nuvem de glória;
Continue conosco, vamos mergulhar no estudo desta passagem magnífica!
Moisés e Elias, as duas testemunhas
Moisés e Elias são dois grandes personagens bíblicos que representam a Lei e os Profetas. Eles testemunharam a vinda do Messias naquele monte, por isso são as duas testemunhas do livro do Apocalipse:
E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco.
Apocalipse 11:3
O texto da revelação de João atribui a estas duas testemunhas, todo o poder e características de Elias, que fechou o céu e não choveu por três anos e meio em Israel; e Moisés que transformou a água do rio Nilo em sangue, e enviou as pragas do Egito.
Estes têm poder para fechar o céu, para que não chova, nos dias da sua profecia; e têm poder sobre as águas para convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda a sorte de pragas, todas quantas vezes quiserem.
Apocalipse 11:6
Além disso, a presença de Moisés (que morreu) e Elias (que não morreu) no alto monte com Jesus, constitui testemunho tanto dos vivos como dos mortos.
Porque foi para isto que morreu Cristo, e ressurgiu, e tornou a viver, para ser Senhor, tanto dos mortos, como dos vivos.
Romanos 14:9
A nuvem na transfiguração de Jesus
É interessante que no Apocalipse, as duas testemunhas depois de serem mortas e ressuscitadas, sobem ao céu em uma nuvem.
…E subiram ao céu em uma nuvem; e os seus inimigos os viram.
Apocalipse 11:12
E o mesmo acontece na transfiguração de Jesus, quando Moisés e Elias entram na nuvem, de onde os Apóstolos ouvem uma voz.
E, dizendo ele isto, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, entrando eles na nuvem, temeram.
Lucas 9:34
O texto de Lucas nos informa que depois que o Apóstolo Pedro sugeriu a construção de três tendas (ou tabernáculos), veio uma nuvem e os cobriu.
Segundo o texto da Peshitta, em Hebraico e Aramaico, os Apóstolos temeram quando viram que Moisés e Elias entraram na nuvem.
…e, entrando eles na nuvem, temeram.
Lucas 9:34
A parte do versículo de Lucas 9:34, que diz “entrando eles na nuvem“, a versão da Peshitta traz com mais detalhes, nos informando que foram Moisés e Elias que entraram nela.
כַּאֲשֶׁר רָאוּ אֶת מֹשֶׁה וְאֵלִיָּהוּ נִכְנָסִים בֶּעָנָן
…e eles temeram quando viram Moisés e Elias entrando na nuvem. Lucas 9:34 – versão da Peshitta Aramaica.
Façamos três tendas
E ainda mais revelador, a Peshitta registra que quando Pedro sugeriu que fizessem as três tendas, também chamadas de סֻכּוֹת sucôt, ou tabernáculos, em Hebraico.
…disse Pedro a Jesus: Mestre, bom é que nós estejamos aqui, e façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias, não sabendo o que dizia.
Lucas 9:33
Segundo o entendimento de Glenn David Bauscher, o texto da Peshitta, para a primeira parte do verso traz 9:34, “…veio uma nuvem que os cobriu…”, traz o verbo Aramaico אטלת “atlat”, que significa “formou um tabernáculo“, no qual Moisés e Elias entraram.
De acordo com Gleen David, e a Peshitta, a melhor tradução para esse versículo seria:
E enquanto ele disse essas coisas, houve uma nuvem que formou um tabernáculo e os cobriu com sua sombra; e eles temeram quando viram Moisés e Elias entrando na nuvem. Lucas 9:34 – versão da Peshitta Aramaica, tradução de Gleen David Bauscher.
Por mais que pareça estranha essa tradução, não é a primeira vez que uma nuvem toma a forma de um tabernáculo na Bíblia. O Profeta Isaías já apontava para esse acontecimento da transfiguração, que voltará a ocorrer também no futuro:
E criará o Senhor sobre todo o lugar do monte de Sião, e sobre as suas assembléias, uma nuvem de dia e uma fumaça, e um resplendor de fogo flamejante de noite; porque sobre toda a glória haverá proteção.
E haverá um tabernáculo para sombra contra o calor do dia; e para refúgio e esconderijo contra a tempestade e a chuva.
Isaías 4:5,6
Depois de seis dias
Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte,
Mateus 17:1
“Depois de seis dias” também alude a uma história importante: a ascensão de Moisés ao Monte Sinai. Quando Deus revelou a sua Lei, ele convidou Moisés para subir ao Monte Sinai. Por seis dias a nuvem de glória cobriu aquele Monte.
No sétimo dia, a voz do SENHOR o chamou de dentro da nuvem, e Moisés subiu a montanha para entrar na nuvem e ficar na presença do Eterno:
Então Moisés subiu ao monte, e a nuvem cobriu o monte. A glória do SENHOR repousou no monte Sinai, e a nuvem cobriu-o por seis dias; e no sétimo dia clamou a Moisés do meio da nuvem … Moisés entrou no meio da nuvem ao subir à montanha. (Êxodo 24: 15-18)
Depois de seis dias, Jesus e três discípulos subiram a alta montanha. Como Moisés, os discípulos se viram envolvidos em uma nuvem de glória. Como Moisés, eles ouviram a voz de Deus falando da nuvem. E o Mestre começou a irradiar a sua glória.
E quem eles encontraram na Montanha, mas o próprio Moisés e Elias – o único outro personagem na Bíblia a também ter ascendido ao Sinai e ouvido a voz de Deus falando com ele no topo do monte.
Local da transfiguração
O monte Tabor fica próximo a Naim e a Nazaré, e foi onde Débora ordenou o ajuntamento das tropas de Israel, que lutaram e venceram os Canaanitas.
Apesar da forte tradição, afirmar o monte Tabor como o local da transfiguração de Jesus, parece improvável. Nos dias do Mestre, o Monte Tabor foi povoado e fortificado por instalações militares.
O Sinédrio usava o Tabor como parte de sua rede de montanhas nas quais eles acendiam fogueiras para anunciar o avistamento da lua nova. O monte Tabor, ocupado, não parece um lugar apropriado para a revelação mística e privada da transfiguração.
Mesmo durante a Era Bizantina, Eusébio, o bispo de Cesareia e historiador da Igreja Romana, sugeriu que a transfiguração deveria ser associada ao monte Hermom perto de Cesareia de Filipe.
Os evangelhos colocam a história da confissão de Pedro (onde Jesus e seus discípulos estavam como a última localização antes da transfiguração), a uns 89 quilômetros a noroeste do monte Tabor.
E ainda mais, a cidade de Cesaréia de Filipe estava situada na base do altivo monte Hermon, o pico mais alto de Israel.
O monte Hermon já tinha associações messiânicas. Messias, em Hebraico, é מָשִׁיחַ Mashiach, que significa “ungido [com óleo da unção]. Justamente, o Salmo 133 conectou o “orvalho de Hermon” com o óleo da unção.
Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.
Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.
Salmos 133:1-3
Por essa citação dos Salmos, o Apóstolo Pedro, falando sobre a transfiguração, chama o Hermon de “monte santo”:
Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade.
…da magnífica glória lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me tenho comprazido.
E ouvimos esta voz dirigida do céu, estando nós com ele no monte santo;
2 Pedro 1:16-18
Nuvem de glória
No Antigo Testamento, a nuvem de glória oculta a שְׁכִינָה Shechiná, a divina habitação, ou presença do Eterno. A mesma nuvem que levou Israel ao deserto, desceu ao monte Sinai e estabeleceu o Tabernáculo.
Os livros de Moisés relatam que durante todas as suas jornadas, sempre que a nuvem subia de sobre o tabernáculo, os filhos de Israel partiam:
…a nuvem do Senhor estava sobre o tabernáculo” (Êxodo 40: 36-38).
Quando Moisés completou o Tabernáculo, “a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo” (Êxodo 40:34). No momento da dedicação do templo, a nuvem apareceu e encheu o templo (1 Reis 8:10).
A tradição judaica associa a nuvem de glória à festa de סוּכּוֹת Sukkot, a festa dos tabernáculos, porque as traduções aramaicas da Torá traduziam a palavra “sukkot” com uma palavra aramaica מטליא, metalaya que também pode significar “nuvens”.
O duplo significado da palavra aramaica levou os sábios a interpretarem a festa de tabernáculos como símbolo para a nuvem de glória (isto é, a Presença Divina) que cobriu Israel no deserto.
Eles se referiram a festa de Sukkot como a festa das nuvens; especificamente, a festa da nuvem de glória. O Talmude registra uma opinião de que as cabanas, nas quais os israelitas do deserto viviam, não eram senão a nuvem de glória que se apresentava diante das hostes de Israel.
…e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória.
Mateus 24:30
A Transfiguração foi uma visão.